quinta-feira, 25 de julho de 2013

Sobre o Thiago



Hoje a Igreja celebra a festa do apóstolo São Tiago, um dos filhos de Zebedeu. Onomástico de um filho meu – que registrei com “Th” para que a soma das letras fosse a mesma de seus irmãos – que é seminarista do Redemptoris Mater de Eger, na Hungria.
Confesso que não conheço bem o “meu” Thiago. Lembro dele sempre caladão, parcimonioso no expressar suas opiniões, mas crítico, ponderado e dotado por Deus de uma visão de realidade que poucos jovens hoje possuem. Tornou-se, para a família, o agregador, o seu ponto de equilíbrio, como bem definiu sua catequista.
Mas também dado a brincadeiras sadias, extraindo risos saudáveis de situações cotidianas, aspecto revelado por ocasião da JMJ de Madri, em 2011, mesmo ano em que esteve na convivência de Porto San Giorgio e de lá foi enviado para a Hungria.

Parece-me, salvo engano de minha parte, bem diferente do apóstolo de quem toma emprestado o nome, baseado no que relatam os evangelhos. Se há – ou havia – nele o desejo dos primeiros lugares, sempre disfarçou com perfeição nas “disputas” que poderiam ter ocorrido com o irmão mais velho ou com a irmã caçula. Parecia sempre se contentar com o pouco, não me lembro de vê-lo exigindo nada, ainda que vez por outra manifestasse a sua vontade – um videogame [PS3], um celular avançado, notebook, a preferência para dirigir o carro da família...

Thiago está de férias no Brasil, veio disposto a ficar esse tempo todo em Belém. Não trazia o desejo de ir à Jornada Mundial da Juventude, queria mais era descansar; foi surpreendido com o empenho de seus catequistas daqui em colocá-lo num grupo que fosse à Jornada – seu responsável não o incluíra, pois já sabia da sua intenção de permanecer por aqui.

E lá foi o menino da Hungria para o Rio de Janeiro, ao lado dos jovens de Jesus Bom Samaritano. Foi só ele, pois o húngaro que o acompanharia deixou de vir à última hora. Aos poloneses que passaram por aqui recepcionou no aeroporto, esteve com eles na celebração na Basílica-Santuário e só. Ao terminar o sábado já estava a caminho do aeroporto, cujo voo deixou Belém na madrugada do domingo. Deve retornar entre segunda e terça-feira, concluída a JMJ, para uma última semana completa por aqui. Na manhã do dia 7 embarca de volta para a Europa.

Thiago foi o único dos filhos que deixaram nossa casa que me fez engasgar, sentindo as lágrimas chegarem e pedirem passagem. Disfarcei, mas no escondido acabei me rendendo à realidade – o menino que se ia levava com ele um pedaço de mim, talvez a única parte boa que eu consegui ter.

Não vai de vez, deve retornar no ano que vem – talvez esteja por aqui para o casamento da irmã caçula, em dezembro – e no futuro talvez estejamos reunidos novamente. Mas fico impressionado com a sua capacidade de se entregar à vontade de Deus de uma forma assim tão despojada, como eu creio que nunca ocorreria comigo. Lembro que lhe disse, antes que fosse à convivência em Roma, quando já estava em Madri, que não permitisse que o afeto, os sentimentos em relação à família fossem mais fortes que o atendimento ao chamado de Deus.
Ainda bem que ele me escutou e obedeceu.

Parece que alguém da família tem a cabeça no lugar...




Em 25/7/2013.

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