Hoje a Igreja celebra a festa do apóstolo São Tiago, um dos filhos de Zebedeu. Onomástico de um filho meu – que
registrei com “Th” para que a soma das letras fosse a mesma de seus irmãos –
que é seminarista do Redemptoris Mater de
Eger, na Hungria.
Confesso que não conheço bem o “meu” Thiago. Lembro dele sempre caladão,
parcimonioso no expressar suas opiniões, mas crítico, ponderado e dotado por Deus
de uma visão de realidade que poucos jovens hoje possuem. Tornou-se, para a família,
o agregador, o seu ponto de equilíbrio, como bem definiu sua catequista.
Mas também dado a brincadeiras sadias, extraindo risos saudáveis
de situações cotidianas, aspecto revelado por ocasião da JMJ de Madri, em 2011,
mesmo ano em que esteve na convivência de Porto
San Giorgio e de lá foi enviado para a Hungria.
Parece-me, salvo engano de minha parte, bem diferente do apóstolo
de quem toma emprestado o nome, baseado no que relatam os evangelhos. Se há –
ou havia – nele o desejo dos primeiros lugares, sempre disfarçou com perfeição
nas “disputas” que poderiam ter ocorrido com o irmão mais velho ou com a irmã caçula.
Parecia sempre se contentar com o pouco, não me lembro de vê-lo exigindo nada,
ainda que vez por outra manifestasse a sua vontade – um videogame [PS3], um
celular avançado, notebook, a preferência para dirigir o carro da família...
Thiago está de férias no Brasil, veio disposto a ficar esse
tempo todo em Belém. Não trazia o desejo de ir à Jornada Mundial da Juventude,
queria mais era descansar; foi surpreendido com o empenho de seus catequistas
daqui em colocá-lo num grupo que fosse à Jornada – seu responsável não o
incluíra, pois já sabia da sua intenção de permanecer por aqui.
E lá foi o menino da Hungria para o Rio de Janeiro, ao lado dos jovens
de Jesus Bom Samaritano. Foi só ele, pois o húngaro que o acompanharia deixou
de vir à última hora. Aos poloneses que passaram por aqui recepcionou no
aeroporto, esteve com eles na celebração na Basílica-Santuário e só. Ao terminar
o sábado já estava a caminho do aeroporto, cujo voo deixou Belém na madrugada
do domingo. Deve retornar entre segunda e terça-feira, concluída a JMJ, para
uma última semana completa por aqui. Na manhã do dia 7 embarca de volta para a Europa.
Thiago foi o único dos filhos que deixaram nossa casa que me fez
engasgar, sentindo as lágrimas chegarem e pedirem passagem. Disfarcei, mas no
escondido acabei me rendendo à realidade – o menino que se ia levava com ele um
pedaço de mim, talvez a única parte boa que eu consegui ter.
Não vai de vez, deve retornar no ano que vem – talvez esteja por
aqui para o casamento da irmã caçula, em dezembro – e no futuro talvez estejamos
reunidos novamente. Mas fico impressionado com a sua capacidade de se entregar à
vontade de Deus de uma forma assim tão despojada, como eu creio que nunca
ocorreria comigo. Lembro que lhe disse, antes que fosse à convivência em Roma, quando
já estava em Madri, que não permitisse que o afeto, os sentimentos em relação à
família fossem mais fortes que o atendimento ao chamado de Deus.
Ainda bem que ele me escutou e obedeceu.
Parece que alguém da família tem a cabeça no lugar...
Em 25/7/2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário