quinta-feira, 25 de julho de 2013

Bloco de rascunhos



Meu bloco de rascunhos precisava ser preenchido hoje com algumas palavras. Já havia colocado sobre ele alguns rabiscos, um e outro desenhos riscados aleatoriamente, mas isso se mostrou irrelevante.
Queria registrar algumas anotações, emitir opiniões, embora não tivesse ideia formada a respeito do quê. São muitos os pensamentos, são várias as possibilidades.

Num passado hoje remoto iniciaria um poema que viria a publicar em seletas mimeografadas aos meus já então fiéis seis ou sete leitores, que me acompanham desde priscas eras. Ou numa crônica de ocasião que ganharia espaço no jornalzinho da escola e renderia elogios do professor de literatura.
Naquele tempo uma folha de papel não permanecia imaculada por mais de alguns minutos, o suficiente para que a caneta o visitasse e começasse a passear sobre ela, inserindo palavras – substantivos, verbos, advérbios, adjetivos, etc. – colorindo-a com a expressão de alguma coisa que alguém mais adiante classificaria – crônica, poesia, etc. – e levaria ao conhecimento de outrem.

Não sei se me tornei mais exigente ou preguiçoso. As ideias vêm, a oportunidade acontece, mas as palavras teimam em não se derramar mais sobre o papel.
E assim transcorre quase uma eternidade, o papel permanece intocado e, graças à intervenção externa, logo aparece alguma outra coisa a fazer de maior importância e fica para outra oportunidade o escrever.
Não deixei de ler – talvez o faça até mais do que antes, mas tenho usado de parcimônia ao permitir que essa inspiração me impulsione. Ou seja, onde antes eu acelerava e produzia bastante hoje sou comedido e mantenho o freio engatado.

Até recentemente usava o recurso do e-mail para fazer chegar meus textos à meia dúzia de seis ou sete leitores fiéis. Contudo, rendi-me à desculpa do trabalho – todos eles – para reduzir a produção de algo novo. Revelou-se mais fácil pegar umas palavras antigas ou de outras pessoas.
Assim, a folha de papel à minha frente continua limpa. E eu querendo me fazer acreditar que era assim por uma atitude ecologicamente correta.
Pura hipocrisia – minha e de quem acreditasse nessa justificativa.

Daí a conclusão: ou foi-se embora a capacidade criativa – de quem mantinha sozinho um jornaleco semanal que tratava de quase tudo – ou foi apenas um lampejo que, por ser o que era, apagou-se.

É carnaval, vem me lembrar o som de uma marchinha que toca ao longe nesta manhã de segunda-feira que me encontra sentado, tentando escrever...

E o meu bloco – o de rascunhos – desfila impávido e sem qualquer ideia nova, mergulhado na incapacidade criativa de seu dono...

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