segunda-feira, 22 de julho de 2013

Promessa


No transcorrer da história, Deus faz – e cumpre! – um sem número de promessas ao ser humano. A Escritura sagrada coloca em evidência esses comprometimentos de Deus de uma forma emblemática na figura do patriarca Abraão e em sua descendência, protótipo da pessoa de quem o Senhor se agrada.
Mas, tenhamos em conta que Abraão está longe de ser um primor de criatura. Além do que já conhecemos dele – um velho, fracassado em seus projetos de alcançar a felicidade – os escritores bíblicos – notadamente São Paulo – destacam a sua obediência àquilo que Deus lhe pede/ordena e a confiança quase cega que o patriarca deposita naquele que lhe fez uma promessa crucial.
Contudo, examinando a trajetória de Abraão é possível encontrar, aqui e ali, alguns pontos em que nos parece haver um quê de desobediência e/ou desconfiança. Quando mente ao faraó, quando tem Ismael com Agar; são detalhes de sua caminhada que demonstram a ansiedade em presenciar o desfecho da história, apressar o cumprimento da promessa. Isso, porém, não o desclassifica perante o Altíssimo. Abraão ainda não tem a perfeição do discernimento para entender que Deus, não sendo um ser humano, não engana, não se atrasa, antes faz valer tudo o que disse; no seu tempo, não no nosso.
O problema que aparece em Abraão – que é também o nosso – é querer estabelecer um prazo para que o Senhor cumpra o prometido, realize aquilo que disse que faria acontecer.
É o que se repete numa escala diferente com o povo de Israel. Escravos durante séculos no Egito, onde experimentaram toda espécie de sofrimento e humilhação, não querem mais esperar para que as promessas, renovadas aos descendentes de Abraão por meio de Moisés, se tornem realidade. Querem pão e água já; aceitam o Senhor como seu Deus, mas pouco depois querem substituí-lo por um bezerro de ouro, pois não conseguem ver àquele que os livrou da escravidão. Em diversos momentos durante o trajeto duvidam da promessa de liberdade que lhes foi apresentada, além de habitar numa terra “onde corre leite e mel” em abundância.
Da mesma forma ocorre conosco, com você e comigo. Com o batismo recebido, mesmo em criança, veio junto uma promessa de felicidade eterna, uma vida de gozo e de alegria. Essa promessa, ainda que dela não tenhamos tido conhecimento até agora, permanece em expectativa. Ou seja, Deus continua disposto a cumpri-la, quer cumpri-la na vida de cada um, pois é fruto de seu amor inenarrável pela humanidade que criou e que, mesmo decaída por causa do pecado, tem a oportunidade de se reconciliar com o Pai, graças ao dom obtido pela morte e ressurreição de Jesus Cristo.
É nele, o Unigênito, o Príncipe da Paz, que Deus estabeleceu como único verdadeiro intercessor, que podemos alcançar a graça de voltar ao caminho que conduz ao Reino. A sua completa obediência à vontade de Deus nos permite usufruir novamente da herança que havíamos perdido ao rejeitar a vontade do Senhor em nossa história escolhendo os nossos vícios e fraquezas.

Claro que há condições, mas estas se encontram ao nosso alcance, não se trata de uma armadilha. Deus quer de nós o mesmo que pediu – e obteve – de Abraão: confiança, obediência, esperança.
Confiar na fidelidade do Deus que Jesus nos revelou como sendo seu Pai e que deseja ser também nosso. Obediência à orientação que nos oferece para que não nos desviemos da trajetória que nos leva ao Reino dos Céus. E esperança – aguardar o tempo de Deus, o momento em que toda essa expectativa se transformará em realidade, e tudo o que é hoje promessa enfim se realizará.
Para isso é preciso “trabalhar” a nossa ansiedade. Por termos vivido a experiência do pecado, o mundo nos tem ensinado a acumular coisas – bens, afetos, etc. – e não sabemos partilhar; fomos catequizados para ver no outro um inimigo, alguém que vem nos roubar o que amealhamos. Disseram-nos – e acreditamos nisso! – que a nossa história é má e a culpa é de Deus. Ensinaram-nos uma enormidade de mentiras entremeadas com algumas poucas verdades e por isso trazemos conosco a insegurança, a incerteza, uma completa e insaciável insatisfação.

Por meio de sua Igreja Cristo quer nos reconstruir, refazer em nós a criação, para que possamos voltar ao que éramos no princípio dos tempos – amigos de Deus.
Convenhamos que isso é tarefa árdua e demorada. É preciso que nos esvaziemos dos falsos conceitos e das falsas verdades que nos ensinaram – e que nos desconstruíram – para que possamos assimilar a verdadeira beleza de pertencer ao Deus Pai amoroso que Cristo nos apresenta.
Esse é o nosso esforço: permitir que Deus aja em nós, nos faça pessoas novas, onde o Espírito Santo possa habitar e transformar em verdadeiros filhos de Deus. Aprender a amar, da mesma forma que temos sido amados por Deus e pela Igreja.
Somente assim estaremos prontos para acolher o que Deus tem nos prometido desde sempre e aguarda o momento certo de nos entregar, para que a nossa felicidade seja enfim completa.

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