quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Sobre tempo, vida, morte...

Foi-me pedido para falar sobre o tempo, a vida, a morte...
Escreveria talvez um tratado, um calhamaço de páginas a respeito, que somente um louco se daria ao trabalho de ler, e mesmo assim não conseguiria esgotar o tema.
Simplesmente porque é um mistério, grande como o universo.
E os mistérios que são explicáveis deixam de sê-lo, o que não é exatamente o caso dessas três palavras, curtas, mas de um significado e abrangência bastante profundas...

tempo

De fato, o tempo em sua essência não tem início e, consideradas as perspectivas, também não terá fim. Usamos a nossa existência e a de outras pessoas como parâmetros, mas somente para que seja satisfeita uma necessidade nossa, uma sede de conhecimento. Para que não enlouqueçamos.
É verdade que temos um “prazo de validade”. Nascemos num determinado momento e morreremos em outro. A esse intervalo conceituamos como “vida”. Para nos ajudar a entender esse processo classificamos esse período em anos, meses, dias, horas etc.
Pelo armazenamento que fizeram os que nos precederam sabemos nos situar no espaço — num determinado local (cidade, Estado, País, continente, planeta...) — e no tempo — dia, mês, ano, século, milênio...

vida e morte

Mas, a questão fundamental não é essa! A pergunta que se esconde por trás disso tudo é mais profunda, existencial e, por isso mesmo, terrível.
Na verdade procuramos resposta para o que fazemos neste mundo. Não existíamos e, de repente, aparecemos. Ficaremos por aqui alguns dias, meses, anos e depois voltaremos a “não existir”.
Poderíamos entender “vida” como sendo o intervalo entre o “aparecer” e o “desaparecer”. Parece simples, mas o processo todo nos leva a questionar a nossa presença no mundo.
Num determinado momento começam os “por quês?" que chegam em razão da curiosidade natural, e nos conduzem a questões mais profundas até esbarrarem na ausência da resposta crucial.
Geralmente na adolescência os “por quês” costumam aparecer e nos transformam em “aborrecentes” frente aos pais e demais adultos, porque eles não têm as respostas. Aliás, passado o seu “tempo”, eles mesmos deixaram de se questionar e também aos adultos de sua época.
De que perguntas, enfim, se trata?
Simples: de onde viemos? E para onde vamos?

...

Como somos todos neuróticos, frente a essas indagações temos somente duas opções, não mais que isso.
Ou nos alienamos e deixamos de lado tais questionamentos e, ao nos depararmos com a solidão — que é inevitável, queiramos ou não ela chega um dia — nos ocupamos em “matar o tempo”, simplesmente “indo em frente”. E vivemos numa espécie de “loop”: acordar, café da manhã, estudar/trabalhar, almoço, estudar/trabalhar, lazer, jantar, dormir; acordar, café...
Ou então buscamos sem cessar uma resposta satisfatória para essa questão angustiante indagando a nós mesmos, a quem julgarmos mais sábios que nós, aos “Googles” que encontrarmos em nossa caminhada.
Até dar de encontro com a constatação de que não existe alguém com a resposta acertada, aquela que enfim nos satisfaça e nos leve a entender o que de fato fazemos neste mundo.

Até lá, se tivermos fôlego, veremos que problema surge, se instala e nos encaminha à depressão quando alcançamos — se alcançamos! — essa perseguida resposta.

eternidade

Porque concluímos atônitos que, em verdade, somos seres que caminham para a morte, para o “não existir”.
Acredito que tenha brotado no raciocínio de alguém que chegou a essa resposta o sábio pensamento de que “a morte é a única certeza que temos”.
Um dia — que não sabemos exatamente quando — iremos para o cemitério. Nada do que nos esforçamos em fazer irá conosco. Seguiremos sozinhos para um lugar (?) que não conhecemos e, justamente por isso, nos amedronta. E acabamos com um novo problema nas mãos. Ou na mente!

Se antes nos angustiava não ter resposta satisfatória, agora que a temos nossa angústia não diminuiu, pelo contrário...

Afinal, a eternidade é algo de muito bonito mas também muito vago. O processo todo de nossa vida nos fez acreditar que a realidade palpável incluía tempo e espaço, mas quando se fala de eternidade esses conceitos desaparecem, porque não fazem mais sentido.
E isso é como se nos faltasse o chão sob os pés, nos faz ainda menores do que nos víamos quando não alcançávamos as respostas que procurávamos.

É nesse momento que vemos mudar o foco de nossa busca, fazem-se necessários novos horizontes, uma nova perspectiva. Que antes não havia...




Mas, isso é assunto para outra oportunidade...