quarta-feira, 13 de maio de 2015

Experiência gratificante

Vivi neste final de semana uma experiência que, confesso, desejava, mas não alimentava a expectativa de vê-la realizada.
Já são quase trinta anos de caminhada – a se completarem em junho próximo – e eu sentia algo como um princípio de desânimo, apesar das muitas vitórias de Cristo que presenciei durante o transcurso dessa peregrinação.

Tivemos a convivência de Início de Curso 2015 com as comunidades que nossa equipe conduz – três da Transfiguração do Senhor e duas de Nossa Senhora das Graças, ambas em Ananindeua. Conosco estavam duas de Santa Rita de Cassia e duas de Nossa Senhora do Guadalupe, também de Ananindeua, conduzidas pela equipe que tem à frente Josimar e Luzia. E ainda uma comunidade – não recordo qual – de Cristo Rei, Castanhal, levadas à frente pela equipe do Carlos Leal e Aldenora.
Ao todo eram dez comunidades de cinco paróquias, que, somados os catequistas e algumas babás, ultrapassavam 150 pessoas, mais do que o limite previsto para a Casa, em torno de 130 a 140 almas. E mais da metade – arrisco estimar em ¾ do total – jovens. Havia quartos que tiveram sua capacidade excedida, colchões pelo chão. Humanamente, tudo contribuía para um caos.
Até nosso catequista se mostrou preocupado e, embora confiante, buscava notícias sobre o evento, que se encerraria no domingo do dia das mães, outro elemento que poderia conturbar a convivência.
Mas aí se deu o primeiro dos milagres que presenciei. Não houve qualquer tumulto. Lembro de apenas uma reclamação, a de uma mãe que desejava mais conforto para seu filho, ainda que este nada manifestasse. Coisas de mãe...

No sábado, que se desenhava bastante assoberbado – Laudes, perscrutação, Penitencial, questionário... –, meu coração permanecia sobressaltado, como à espera de um desastre. Para verem como sou pessimista...
Durante a penitencial nem me lembro de quantos padres havia ao certo, pois ficou gravada a experiência compartilhada pelo padre Vicente, lusitano que nem o meu primeiro catequista, padre João Marcos, hoje bispo na terrinha (e conhecido de padre Vicente). Alguém que viveu um tempo de crise que quase o fez desistir da vocação e que reencontrou o ardor ao trabalhar com jovens egressos das drogas num centro de reabilitação. Precisou cruzar o Atlântico para recuperar a fé...
Uma declaração corajosa e entusiasmante, que quase nos fez perder o desejo de almoçar, após o pequeno jejum daquela manhã.
Após o “desjejum festivo” e um pequeno intervalo a assembleia foi dividida em grupos para responder a um questionário com perguntas sobre a orientação do magistério da Igreja colocado em prática na vida cotidiana. Não era exatamente esse o título dado, mas, em resumo, era esse o assunto.

Na hora de colocarmos em comum as respostas do questionário, eu, na minha incredulidade, via aí o segundo estrangulamento da convivência, sendo que o primeiro, na noite anterior, já não ocorrera.
Foram dezoito grupos mesclando jovens, casados, viúvos, respondendo a uma dezena de perguntas que desnudavam não somente o conhecimento, mas, sobretudo a vivência da orientação recebida da Igreja enquanto instituição.
Numa sala ampla e refrigerada – temperatura média de 18 graus –, já pela manhã acontecera de muitos se agitarem para fugir do frio, deixando seus lugares ou mesmo saindo, ignorando o momento, quer fosse uma pregação, uma leitura ou um canto. Aproximava-se a noite e a temperatura exterior também caía...
Aí se deu o segundo milagre. Durante mais de uma hora, sucedendo-se respostas dadas pelos secretários, nenhum dos jovens deixou a sala. Escutavam atentos ao que era dito nas respostas ou eventuais intervenções dos catequistas.
Isso nos deixou assombrados – no bom sentido, claro! Mas havia ainda surpresas reservadas para aquele dia...

Após o jantar, quase nove da noite, voltamos a nos reunir para escutar uma catequese sobre o magistério da Igreja, procurando iluminar nossa conduta, enquanto desejosos de sermos verdadeiros cristãos. A rigor, um tempo árduo, pois, ainda que o tema possa ser interessante, há um combate terrível contra o cansaço, o sono e o frio do ambiente – a temperatura continuava em 18 graus.
Era a hora de ocorrer o terceiro milagre: uma assembleia atenta permaneceu na sala por quase duas horas, como que bebendo do que a Igreja trazia para alento do espírito e encorajamento dos ânimos de todos nós.
Nas convivências, no sábado à noite, encerrados os trabalhos do dia, é costume as pessoas se reunirem – geralmente os mais jovens, embora também alguns adultos – para “esticarem” um pouco em rodas de conversas, cantorias, danças... Quando são muitos os jovens, não raro ocorre de haver excessos: vozes e cantos que incomodam a quem busca o repouso, o que sempre gera alguma confusão...
Hora, então, de mais um milagre: nada disso aconteceu. Ficaram reunidos até mais de uma hora da manhã e nenhum exagero. E havia entre eles alguns dos que se costuma chamar de “bagunceiros”. Coisas do Espírito Santo...

Não bastasse tudo isso, no domingo houve a celebração da Eucaristia. A previsão era de que fosse presidida pelo padre Edmundo, que já estivera no sábado, para a penitencial. A surpresa veio por conta da impossibilidade de vir à convivência por causa de outra tarefa recebida para o mesmo horário.
Procuramos por um presbítero e parecia que ou ficaríamos sem Eucaristia, ou a celebraríamos quase ao meio-dia, quando seria possível chegar o padre Edmundo.
E aí, para selar a convivência, como um “plano B”, eis que vem o padre Vicente, aquele mesmo que vivera a experiência do resgate de jovens, que nos brindou com uma bela homilia, dessas que dá raiva na gente ter deixado de gravar para escutar outra vez mais tarde.
Selando os milagres desse final de semana, a notícia do pagamento – integral e com sobras – da convivência, apesar das dificuldades que muitos alegaram com antecedência, inclusive usando o argumento de não terem dinheiro para os gastos. Definitivamente, Deus queria que essa convivência acontecesse!

Retornei para casa cansado, é verdade, mas agradecido a Deus pela oportunidade que me concedera de presenciar os milagres que enumerei. Uma convivência de Início de Curso que guardarei com carinho entre as várias lembranças de passagens fortes do Senhor, fazendo prodígios com seu braço forte.

Apesar da minha incredulidade, não tenho como não reconhecer o que diz o salmista quando afirma que “o braço de Iahweh não secou”, o seu poder permanece e, se é assim, certamente haverá de completar a obra que começou comigo.

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