quarta-feira, 15 de abril de 2015

de eleições


A poucos dias das eleições gerais deste ano dei uma pausa ao silêncio que tomou conta de mim nos últimos tempos, depois de ler três artigos do Prof. Felipe Aquino, que recebo periodicamente da Editora Cléofas.
Reconheço que os textos causaram um alvoroço nos meus pensamentos, me colocando em xeque. Para ser franco, fiquei (e ainda me encontro!) entre a cruz e a espada.
O raciocínio do professor está correto, não posso me eximir de responsabilidade diante de Deus nem da nação, mesmo não conseguindo enxergar coisa boa entre os milhares de candidatos, mesmo frente a tantas atrocidades que são praticadas e das quais algumas me chegam ao conhecimento.

Um dos artigos, em que critica o uso do ‘voto em branco’ e/ou do ’voto nulo’, defende que agir contribui para que o mal se perpetue, o que é verdade, pois sempre alguém será eleito e, pela falta de boas opções, certamente será aquele que melhor agiu nesse sentido, inclusive se utilizando de meios bastante reprováveis caso venham a ser descobertos.
Votar no “menos ruim” como alternativa frente aos absurdos que surgem a todo instante significa escolher o “mal menor”. Contudo — e aqui reside o grande problema! —, qual seria esse “mal menor”? Afinal, os candidatos que hoje se digladiam estarão amanhã em uma hoje inadmissível aliança; o que hoje parece coerente (ou menos incoerente!) amanhã será que permanecerá o mesmo?
Numa situação dessas, quando o impasse é dessa grandeza, eu consigo entender (não falei em aceitar nem em concordar!) o procedimento de Pilatos, colocado pelas circunstâncias entre condenar um inocente e ir de encontro aos poderosos.

Quando começo a pensar que o errado sou eu em não querer tomar parte nesse imbróglio todo, que deveria sair procurando o que for possível obter a respeito dos diversos que campeiam em busca de votos, recebo mensagem de uma amiga em que desabafa tudo aquilo que, mesmo eu não querendo, é o que consigo enxergar na realidade política do meu País.
Ela tem razão – e muitos outros que pensam de modo semelhante. Pois contemplamos diuturnamente, mesmo não querendo, não buscando, um verdadeiro tsunami de injustiças acontecendo em todos os lugares. Em casa, na escola, no trabalho, no trânsito...
Penso que não exista um só local neste mundo que esteja livre da injustiça. Injustiça social, racial, sexual...
De todos os lados eclodem, como foguetes de São João — surtos de injustiça.

Aí me vem um outro pensamento, que, embora não explícitos nos artigos do professor Aquino, nem nas citações por ele apresentadas, atravessam os textos e dão-lhe o sentido que nos parece inadmissível nos chamados tempos hodiernos.
O único justo, aquele que poderia ter feito justiça e aniquilado os injustos da face da terra, no momento em que foi colocado frente a frente com a injustiça mais profunda, não o fez. Ou, por outro ângulo de observação: não o fez como nós gostaríamos que tivesse feito.
Antes, frente a quem o agredia olhava com ternura; a quem o matava oferecia misericórdia, perdão. Agiu como propôs que se fizesse, naquele primeiro momento, por ocasião do pronunciamento das bem-aventuranças.
Para os conceitos do mundo, do nosso mundo — seu e meu — isso é uma loucura!
No entanto, agir assim é fazer justiça, a verdadeira justiça.

Eu não quero que os injustos se perpetuem no poder em nosso País. Não quero que o povo continue sendo enganado pelos que se locupletam com os negócios escusos que pululam a céu aberto. Não quero que a injustiça continue proliferando sem um horizonte que lhe impeça o avanço.
Mas não posso querer que as coisas aconteçam segundo o meu entendimento. Porque tenho de reconhecer que a mim não foi dado o poder de julgar ninguém. Se Deus não me pusesse certos limites, seria eu a estar desempenhando as mesmas atrocidades que hoje se veem por aí, enriquecendo ilicitamente e oprimindo a muitos, impondo as minhas vontades.

A mim foi dado, apenas, o poder de escolher quem vai estar no parlamento ou no governo. Do município, do Estado, do País. Para isso era necessário que eu conhecesse as propostas de quem se oferece para esse serviço. Que investigasse pelos meios ao meu dispor o que estaria por trás desse interesse de se candidatar.

Mas, confesso que, em vez disso, preferi ficar na penumbra de não ir em busca dessas informações, juntando-me à maioria que desliga o rádio ou a TV no horário politico e não acompanha o que fazem os candidatos. Talvez por vergonha de me dizer interessado em votar bem, não desperdiçar o meu voto. E, com isso, perdi a oportunidade de, neste momento, poder saber quem, de fato, será o ‘menos pior’ dos que aí se encontram.

Sei que agora é um pouco tarde para recuperar o tempo perdido, mas não para que essa reflexão me faça mais atento, a partir de agora, para a minha responsabilidade frente ao processo eleitoral brasileiro, não seja apenas mais um.

Espero...



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