As mudanças provocam tensão, às vezes
geram conflitos, mas são sempre necessárias para que a vida siga o seu curso.
Algumas permitem despedidas, momentos que
tocam o coração e sentimentos de quem os têm. Noutras ocasiões são abruptas e deixam
uma sensação de vazio que temos dificuldade para preencher e nos fazem imaginar
que nos falta o chão sob os pés.
Diante de momentos assim eu consigo
compreender o desapego que Jesus exige de quem dele se aproxima — “Quem não
odeia pai, mãe, irmãos e a própria vida não é digno de mim”. É preciso estar
preparado para os rompimentos, mesmo que as aparências provoquem a ilusão de
que tudo seja sólido, firme, inarredável.
Isso em relação a tudo — pessoas, coisas e
situações — pois tudo nesta vida é transitório, uma vez que caminhamos em
direção à eternidade, para onde não levaremos nada deste mundo.
A introdução acima serve para uma porção
de coisas, mas a preparei para registrar o final de uma missão que me fora
confiada pela paróquia de Nazaré em meados da década passada: os comentários e
reflexões para a Missa do Dizimista, celebrada a cada segundo domingo de cada
mês (à exceção de outubro, por causa do Círio, vivida no primeiro domingo).
Desde 2006, creio eu, foram muitos os
momentos de aflição para entregar os textos em tempo hábil. Tomar as leituras,
preparar os comentários que seriam lidos ou serviriam de base para uso dos
comentaristas de cada missa. E havia ainda uma reflexão procurando “encaixar”
as leituras — geralmente o Evangelho — com o Dízimo e alguma comemoração
naquele mês — dia das mães, dos pais, algum santo...
Digo ‘momentos de aflição’ pois não
bastava ter todo o material à mão para que surgisse um texto que fosse ao mesmo
tempo conciso e capaz de levar a quem porventura viesse a ler a uma verdadeira
reflexão, a ponderar os argumentos apresentados. Pois eu dispunha dos elementos
para que surgisse o trabalho desejado, mas este é dom de Deus, que pode
acontecer, ou não!
Daí a minha preocupação: naquele conjunto
de palavras e frases estava de fato a mensagem? Deus gostaria que as pessoas a lessem?
Nessa tarefa muito me ajudou a ‘dona
Goretti’, minha esposa e crítica da maioria dos textos que encaminhei à
Pastoral do Dízimo (PD) nesses quase
dez anos ininterruptos. A grande maioria dos arquivos que enviei à PD passou primeiro pelo “crivo” de
“minha auxiliar”, que assim colaborava para que cada trabalho fosse uma forma
de evangelizar quem o recebesse.
Registro isso no dia em que, num final de
maio, recebo a minha “demissão”, colocando um ponto final nesse trabalho que me
ocupou durante esse tempo todo e me ajudou a manter contato com a liturgia
dominical, mês após mês, me levando a uma reinvenção contínua, para que, ao
enviar os textos para a PD, o
fizesse com a sensação de “dever cumprido”.
Foi um tempo interessante, pois me valia
dessa tarefa para que, antes de qualquer outra pessoa, pudesse eu refletir
sobre a temática que estaria sendo abordada no impresso que circularia nas
missas daquele mês na paróquia. O que fazia de mim o privilegiado primeiro
beneficiado do que havia escrito.
Vira-se uma página, mas a vida prossegue
adiante, seguindo seu trajeto inexorável. Valeu — e muito — tudo o que gastei
para produzir cada um dos folhetos que a PD fez chegar aos fiéis na paróquia.
Outros caminhos serão percorridos, bem o
sei. Espero que quem dê continuidade ao trabalho o faça com o mesmo zelo (ou
até maior!) e também saiba aproveitar dele como eu pude fazê-lo.
Hoje é ocasião de despedida.
E, como diria um amigo: até de repente!
Maio/Junho de 2014.
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