terça-feira, 27 de agosto de 2013

noticiário policial

Não costumava gastar meu tempo lendo as páginas do noticiário policial, até que alguém me disse que as lia para examinar as fotos, sobretudo as de criminosos e suspeitos – eram olhares perdidos, rostos inexpressivos ou mesmo sórdidos, onde se podia perceber claramente o retrato do ser humano sem Deus. Passei a encarar de modo diferente o caderno de “Polícia”, constatando ser verdadeira a afirmação de quem me convencera.
Isso para explicar porque me chamou a atenção a leitura de duas matérias desse caderno. A primeira delas sobre o caso da menina Isabella Nardoni, que teria sido assassinada pelo próprio pai, com ajuda da madrasta. A outra sobre o menino de 13 anos que teria matado sua família – quatro pessoas mortas com tiros na cabeça. O primeiro crime ocorreu em 2008 e comoveu boa parte do País; o segundo na semana passada. Ambos em São Paulo, a maior cidade do Brasil.
No primeiro caso teria havido um “linchamento moral” dos acusados, com o casal sendo condenado pela opinião pública antes mesmo do veredito do júri. Isso porque um exame realizado nos Estados Unidos e recentemente divulgado alterava o raciocínio utilizado para a condenação do casal à época e que poderá, segundo a defesa, causar uma reviravolta no caso que já se presumia concluído.
No outro caso, a reportagem revela que o menino supostamente assassino de seus familiares teria aprendido a atirar com o próprio pai, que era integrante da ROTA, a patrulha de choque da PM paulista.

Registro essas reportagens sem tomar partido, apenas para ilustrar o pensamento que, parece-me, consta de quase todas as constituições de países livres do mundo: “Todos são inocentes até que se prove o contrário”. Se não é exatamente assim, é algo parecido.
Na prática, porém, se vê que não é bem dessa forma que acontece. O casal do primeiro evento já estava condenado antes mesmo de ser julgado. A opinião pública já havia decidido assim. Nas cadeias do Brasil se encontram pessoas, homens e mulheres que, por não disporem de recursos para bancar advogados capazes de provar sua inocência, apodrecem no cárcere. Boa parte delas foi condenada da mesma forma que aquele casal.
Não entro no mérito do caso Nardoni, pois não os estou defendendo, mas manifesto meu repúdio pelo pré-julgamento, pela condenação antecipada.
É o que acontece em quase todas as esferas da vida. O exemplo que utilizei é apenas isso – um exemplo. Na vida afora agimos da mesma forma e, não poucas vezes, nem nos apercebemos disso, correndo o risco de execrar pessoas sem qualquer embasamento concreto.
Fazemos uma imagem de alguém, um julgamento segundo nossos conceitos particulares e os ‘condenados’ é que precisam provar que não são aquilo que deles pensávamos. Quantos equívocos de consequências drásticas nascem disso? Essas pessoas são condenadas inapelavelmente pelo nosso ‘júri interior’, que não raro se recusa rever o ‘processo’, mantendo irreversível o resultado inicial.

O caso do menino que fora ensinado pelo pai a atirar – se foi ele mesmo quem assassinou sua família e depois cometeu suicídio – me leva a refletir na origem do problema, justamente a família.
Tanta coisa boa a ensinar a um garoto e o pai se ocupa de fazê-lo um atirador! Talvez sonhasse em vê-lo herdando sua profissão, ou tivesse a intenção de prepará-lo para se defender de criminosos... Talvez!
Além disso, uma de suas diversões era jogar games de violência, que muitos pais permitem sob a desculpa de servirem para que os pequenos extravasem no mundo virtual o que não lhes é permitido fazer no mundo real.
Esquecem, contudo, que para que assim ocorra, a pessoa precisa ter exata noção dos ‘mundos’ e também uma consciência formada que lhe sirva de guia e controle os seus impulsos. Ora, se existem adultos que confundem não poucas vezes os limites, quanto mais um adolescente!
Ambos os casos – o julgamento sem bases concretas e educação familiar (ou a falta dela) – são protótipos de uma realidade triste de como se encontra o mundo em que vivemos. Amanhã não se falará mais disso, pois não renderão manchetes para jornais e revistas, serão lançados no limbo do esquecimento pela mídia e pela opinião pública.
As pessoas que foram afetadas por todo esse processo, porém, os sobreviventes, terão que carregar consigo, possivelmente pelo resto da existência, o estigma, as cicatrizes na alma. Que talvez o tempo amenize, venha até a curar. Talvez!


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