terça-feira, 1 de abril de 2014

em trânsito


Li por esses dias um comentário no jornal sobre o comportamento do típico condutor de veículos — a quem chamamos motorista. E fiquei imaginando a possibilidade de arrancar disso um texto novo para os meus seis ou sete leitores.
Além de ter amigos que vez por outra comentam ‘causos’, eu próprio experimento as agruras de dirigir nesta capital, indo e vindo, de casa para o trabalho, do trabalho para casa; isso fora as celebrações, os passeios e outras necessidades na área.
Assuntos houve que se sobrepuseram e acabei deixando passar a oportunidade. Até agora, quando me vi sem o que publicar depois de manifestar minha opinião sobre dois pontos que me cobravam a palavra.

Lembrei de minha filha com sua “Crônica da Meia-passagem” e, com menor charme e competência me peguei anotando no caderno, na sacada do apartamento, aproveitando o silêncio da noite meio fria e antes que chegasse o sono natural de quem chegou aos sessenta e ficou acordado o dia inteiro...

Saio de caso por volta de 7h30 e, no primeiro cruzamento já me vejo atrás de mais de uma dezena de carros à espera de sinal para avançar. O rádio está desligado, pois sofri uma pane de bateria — que foi trocada — e o aparelho pede uma senha que não encontro em lugar algum.
As buzinas ecoam atrás de mim imediatamente ao surgir a luz verde liberando a pista. Exercito um pouco a paciência e sigo em frente sem xingar ninguém.
Mais adiante, depois de uns quinhentos semáforos, o primeiro congestionamento, em frente a uma universidade. Mais buzinaço, gente me cortando a dianteira sem sequer sinalizar, mas o clima ainda não me contagiou. Sigo à direita e encontro o segundo momento de conduzir o carro mais devagar.
São dois os semáforos até a segunda esquina, onde viro à esquerda e passo para o terceiro congestionamento, mais um neste início de manhã.

Chego a mais um cruzamento, viro à direita e sigo uma reta até o próximo engarrafamento. A sequência de buzinas começa a incomodar quando paro antes da faixa diante de um sinal verde, para não obstruir o trânsito e quem está atrás quer seguir adiante, não importam as consequências.
Chega aos lábios um xingamento — “Compra uma rua pra ti!” — mas ainda é cedo, é possível prosseguir sem me deixar levar pelo mau humor.

Uma subida e ao final um apressado corta pela direita e quase é abalroado por alguém que não lhe dá passagem. Diminuo ainda mais a velocidade para não ser atingido pelo imprudente. Sinto o impulso de também impedir seu avanço, mas acabo permitindo que me ultrapasse, mesmo estando no lado errado e o vejo cruzar a esquina e seguir já na parte que é só descida.
Na esquina seguinte freio novamente e deixo que um veículo a cruze antes de mim, cedendo a mais um buzinaço. Deve estar com mais pressa que eu, certamente. Talvez vá parar em frente à escola em fila dupla para que seu filho não chegue atrasado na sala de aula.
Como não tenho nada a ver com isso, contorno a Praça da República e sigo pela Riachuelo até a Padre Eutíquio, a uma velocidade média de 40km/h. Desta vez sem atropelos, sem buzinaço...
Entro por fim na João Diogo e consigo chegar ao local de trabalho. Respiro fundo e me preparo para iniciar a jornada deste dia.

Aí me chega ao pensamento a lembrança de que, algumas horas mais tarde — ou mais cedo, dependendo de como o dia correr — vou enfrentar tudo isso de novo. Mais cansado e com menos paciência, ainda sem qualquer música no rádio — que continua pedindo a tal da senha.
E gente ainda mais estressada ao meu lado, à minha frente e, o pior, atrás do meu carro. Todos apressados para chegar logo em casa. Talvez seja o último capítulo de alguma novela — mesmo sendo uma terça-feira — ou haja alguma programação especial de que não tomei conhecimento.

Valei-me, ó São Cristóvão!

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