É difícil falar de eternidade para quem ainda se encontra
limitado pelo tempo e pelo espaço, pois o eterno vai para além disso.
Seria como definir eternidade como não sendo nem tempo nem lugar,
um hoje sem fim, onde não existe nem um ontem nem um amanhã – tudo é agora!
Só o que podemos é supor, conjeturar, propor hipóteses, pois não
há um padrão para a compararmos.
Assim, cada um pode ter sua ideia própria do que viria a ser a
eternidade.
Fala-se de um julgamento final. E o imaginamos – só isso podemos
fazer, por enquanto – tal como nos relata um trecho do evangelista Mateus.
Cristo ao trono, ao lado de Deus Pai e nós abaixo deles sendo separados
entre os que gozarão as delícias do Reino e os que sofrerão os suplícios do
inferno.
Imaginamos acena sob o prisma da temporalidade – um dia, um
lugar. Porque é isso o que temos como parâmetro, nosso entendimento nos limita
quanto ao que de fato se dará. Mesmo porque Jesus, para nos garantir da
realidade desse desfecho não poderia descrevê-lo diferentemente para que o
pudéssemos entender, ao menos em essência.
Contudo, abstraindo o tempo, podemos supor que, ao deixarmos este
mundo – morrendo – já nos encontraríamos na eternidade. Ou seja, no “lugar”
fora do tempo, quando tudo é “agora”.
Se assim for entraríamos de imediato na realidade em que todos
seriamos – por assim dizer – contemporâneos: desde Adão, Abraão, Davi, Moisés,
os profetas, nossos antepassados e nós.
Saindo do tempo nos depararíamos com a cena do julgamento e, por
consequência, do veredito a nosso respeito: para onde iremos, enfim.
Esse pensamento possui, como os demais, as suas falhas. Onde
ficaria, neste caso, o purgatório? Seria como alternativa ao julgamento?
E aquela imagem, também evangélica, do rico que se dirige ao “Pai
Abraão” que está ao lado de Lázaro? Seria mera parábola utilizada por Jesus
para “sacudir” os descrentes de sua época histórica?
Independentemente de ser acertada ou não a ideia que me acorreu,
o importante é tratar cada dia que nos resta como o momento de parar de fazer
bobagens e tomar avida a sério, conscientes de que a eternidade está às portas
e não sabemos como será, de fato.
E viver melhor, observando o que temos recebido de orientação, de
alerta, com o pensamento iluminado para deixar de seguir vivendo como se
fossemos viver para sempre, porque é certo que iremos morrer um dia, mais tarde
ou mais cedo.
E quando a morte acontecer é melhor que nos encontre preparados
para que, na eternidade, alcancemos a verdadeira felicidade, sem os enganos que
hoje procuram nos desviar do caminho que leva até ela.
Nada melhor do que sermos amigos do Rei, viver na sua amizade e
na dos seus amigos, para que o futuro que ainda nos resta reserve para nós a
verdadeira alegria que o mundo não pode nos oferecer, pois permanece para
sempre, como nós nesta vida, limitado ao tempo e ao espaço que não conseguem
domar a eternidade.
E digo isso em primeiro lugar a mim mesmo, pois não tenho
garantia alguma de que terei lugar dentre os eleitos a estarem ao lado do Senhor
na vida do mundo que há de vir e que não terá mais fim.
Afinal, apesar de querer fazer parte desse grupo, sou obrigado a reconhecer
a fragilidade da minha fé e a necessidade de perseguir, neste mundo, a
santidade, passaporte para viver a eternidade no gozo das delícias do Reino. Pois
é, tenho quase nada de santidade, sequer aquele mínimo que – é opinião minha –
deveria ser exigido de quem pretende ser habitante do paraíso.
Rezem por mim, talvez nos encontremos lá, onde não existe nem
ontem nem amanhã.
Talvez...
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