Depois de algum tempo volto a me manifestar, aproveitando
justamente dois assuntos que me chamaram a atenção nesta semana
pré-carnavalesca.
Não para polemizar, apenas para me posicionar, para não ficar
calado diante do que vejo passar à minha frente quase exigindo que eu não fique
somente contemplando como se estivesse em cima do muro.
É o que faço nas linhas seguintes...
Primeiro.
Quando leio num jornal que acesso pela internet, na primeira
página do caderno de variedades, a manchete indignada: “Azul, a cor proibida”.
Curioso, dei-me ao trabalho de ler a matéria. Tratava-se da
manifestação, de fato indignada do diretor e produtores de uma película
intitulada “Azul é a cor mais quente”, vencedora da Palma de Ouro no festival
de Cannes, França, no ano passado. A empresa que havia sido contratada para
prensar em discos de ‘blu-ray’ o filme recusou-se a fazê-lo alegando não
trabalhar com fitas que tragam cenas de sexo explícito. Outras empresas também
foram procuradas e teriam rejeitado pelo mesmo motivo.
Já que estava no meio do caminho, li rapidamente a sinopse e me
dei conta de que se tratava de filme que trazia como enredo o romance entre
duas adolescentes e teria realmente cenas de sexo explícito que seriam em demasia
para os padrões aceitos pelas empresas encarregadas de copiar a película em
‘blu-ray’, privando assim os privilegiados que a assistiriam no conforto de
suas alcovas às cenas envolvendo as duas meninas.
Seria essa mais uma notícia que passaria ao largo do
conhecimento do público não fosse essa insólita indignação trazida à luz pelos
comercializadores por terem sido impedidos de dar seguimento à enxurrada de
lixo moral que a indústria cinematográfica mundial despeja sobre a sociedade,
travestido de ‘obra de arte’, afogando-a num mar de porcarias já não mais
subliminares, mas explícitas — tais como as cenas que (por algum tempo) não
poderão ser vistas em ‘blu-ray’.
Essa notícia, para mim, chega como um oásis em meio ao deserto
de atitudes que afrontam a moralidade herdada pelo mundo contemporâneo. Faz um
registro oportuno de que ainda há limites para o despudor que grassa na
modernidade, mesmo que haja sinais evidentes de caminhamos para o completo caos
moral, que não se encontra muito distante de nós.
Infelizmente.
Segundo.
Também pelos jornais me chega a notícia de que oito dos réus do
“mensalão” foram absolvidos do crime de formação de quadrilha, pelos quais
haviam sido condenados preliminarmente.
Vejo se levantarem então duas correntes opostas: uma, a dos que
se revoltaram com a medida dos juízes do STF, por entender que deveriam ter
sido condenados; outra, a dos que viram nesse resultado um retorno ao “estado
de direito”.
Não sou partidário de José Dirceu & Cia, muito menos
advogado deles. Mas não nego que me causou espécie ver que a mais elevada corte
do País se rendia a um julgamento nitidamente político, abandonando qualquer
aprofundamento no exame de provas e evidências, algo que me parece básico em
todo julgamento.
Além disso, ver o destempero do juiz Joaquim Barbosa e as
jogadas de cena do juiz Gilmar Mendes e outros mais foram coisas que me
deixaram desacreditado do Direito no Brasil. Não me pareciam posturas
condizentes com os cargos que exercem. Os poucos momentos que assisti pela TV
me deixaram a impressão nítida de que havia algo por trás disso tudo, alguma
coisa não muito boa.
Sempre achei que para condenar alguém era preciso provar, de
maneira insofismável, a sua culpabilidade. Com documentos reais, testemunhos
críveis e outros mais que deixassem evidente que cometeram de fato o crime pelo
qual estavam sendo julgados.
Li algumas reportagens antes e durante o julgamento e, levado
pelo que me chegava ao conhecimento dizia a mim mesmo que, infelizmente, os
réus acabariam absolvidos. Justamente por faltarem o que eu achava
indispensável: as provas, contundentes provas.
Pois parecia haver uma orquestração de passos que conduziam a
esse pensamento. A demora em apresentar a denúncia – que levaria à prescrição —
e a não comprovação de que foram realmente essas pessoas as responsáveis pelos
crimes quando enfim denunciados.
Não, eu não queria que fossem absolvidos! Mas não ficaria
tranquilo com minha consciência se, como havia sido conduzido o processo,
fossem condenados porque “pareciam ter cometido”. Da mesma forma como me recuso
a aceitar que fossem “apenas” esses. Chegaram a eles, mas não se chegou ao
todo.
Deixem-me explicar: se alguém usa o meu carro para cometer um
assalto e eu não apresentei queixa pelo seu desaparecimento, eu serei indiciado
como cúmplice. Penso que é assim que se procede. Se alguém usa a minha casa
como depósito de objetos roubados ou como “boca de fumo” eu acabarei implicado,
de uma forma ou de outra. Daí...
Não festejei a absolvição dos oito “mensaleiros”, da mesma
forma que não comemorei a sua condenação, da forma como se deu. Mas eu sou
apenas alguém que pensa, que está fora da esfera de poder, de mando... Nada do
que eu diga ou faça irá ter grande influência no pensamento global.
Apenas faço o registro para que minha consciência fique
tranquila. Esse pecado eu não terei a me acompanhar pelo que me resta a
viver...