sábado, 28 de dezembro de 2013

Uma noite no hospital

Esta é a versão final de um texto criado em 2010, creio eu. Os personagens citados existem e os nomes foram "trocados" para não "dar muito na cara".


João tinha oitenta e poucos anos quando se deu isto. Aposentado já há algum tempo, estava casado com Odete há muitos novembros, tendo com ela somente uma filha, Maria, que hoje é casada com Raimundo; estes dois juntos têm 12 filhos, que vêm a ser justamente os netos que João sempre quis ter.
Um dia João amanheceu indisposto. Como está há alguns anos já na “idade do condor” – com dor nas costas, na cabeça, nas pernas etc. –, nem ligou. Tomou um chazinho que Odete lhe preparou e seguiu o dia. À tardinha foram à celebração na comunidade. Lá João sentiu-se mal novamente, o bastante para que o levassem à emergência. Onde lhe deram um Buscopam e o mandaram de volta para casa; disseram-lhe que descansando o mal estar passaria.
Durante a noite, porém, voltou a sentir-se mal e o levaram, desta vez a um hospital. Ficou internado, mesmo a contragosto. A esposa e uma das “netas” o acompanharam no pernoite, pois deveria se submeter a alguns exames logo cedo, pela manhã.
Vencido pelo cansaço e também pela medicação ministrada, João dormiu. Dormiram também as acompanhantes, ainda que sentadas nas cadeiras disponíveis no quarto. Dizem que, lá fora, também as enfermeiras daquela ala caíram nos braços de Morfeu...

Quase amanhecendo, despertam as acompanhantes e... Surpresa: o leito onde deveria estar o João encontra-se vazio. Imaginem o alvoroço que se formou então...

As enfermeiras do andar foram mobilizadas e, logo que despertaram, saíram em busca do doente fujão. Acionaram até o vigia do portão de saída... Disseram que realmente um homem “de idade” havia saído. Mas, as características descritas não coincidiam com as de João. Concluíram, então, que por lá ele não havia passado.
Foram ao andar de baixo, na ala em que João fora internado, mas ninguém o vira ali. Seguiram para o andar de cima, onde também João não fora visto.
Ligaram até para o Raimundo que, mais dormindo que acordado, prometeu dar uma ajuda antes de virar para o outro lado da cama. Afinal, nem amanhecera ainda...

Alguém deu a ideia de procurarem nos demais quartos do mesmo andar em que João fora internado.
Depois de procurarem em meia dúzia de apartamentos, eis que o encontram. Dormindo, tranquilo que nem um bebê. Roncava, até...

Após se refazerem do susto, começaram a tentar explicar a si mesmos o que sucedera naquela madrugada incomum e de tanta movimentação.
Concluíram que a ‘novela’ deveria ter sido – mais ou menos – esta:

Tendo dormido à base dos remédios e ajudado pelo cansaço de toda a movimentação daquele dia, João despertou pela madrugada e sentiu vontade de ir ao banheiro. Levantou-se, calçou as sandálias e, meio dormindo, meio acordado, errou de porta. Em vez de entrar no banheiro, viu-se no corredor vazio. Tudo imerso num silêncio hospitalar!
Deu um passo à frente e a porta fechou-se atrás dele. Decidiu não recuar e seguiu em frente, procurando por outra porta. A primeira estava fechada, seguiu em frente, até que uma se abriu. João entrou, foi até o banheiro e aliviou-se.
Quis então voltar para sua cama, porém... João tinha problemas de memória... Não se lembrava mais onde era o seu quarto. Entrou no primeiro que viu livre, mas não era ali. Foi ao segundo, ao terceiro...
Cansou de seguir à procura e escolheu um deles, aleatoriamente, todos tão iguais. Todo arrumado para acolher algum enfermo de emergência. Foi até a cama, deitou-se e nem precisou contar carneirinhos para logo desabar em sono profundo.
Nesse ínterim, lá no quarto onde fora internado, suas acompanhantes despertavam e, percebendo a cama vazia, tinha início o episódio que quase levou Odete a precisar ser também ela internada...


Oh, noite!

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

de uma filha

Uma semana antes do aniversário da caçula da família comecei a preparar um texto que pretendia postar justamente na data comemorativa.
Daí que houve tantos senões, os fatos atropelaram as expectativas que não cheguei a terminar em tempo hábil e assim fiquei limitado a uma simples mensagem por SMS.
Pois é, nem consegui falar com ela naquele dia.
Pela Goretti eu teria enviado a 'obra' diretamente à destinatária. Mas, como sou teimoso, acabei deixando passar tempo demais e o texto ficou para depois.
Seria revisado, coisa e tal. Até que, antes de sair de férias, enviei-o a mim mesmo por e-mail e hoje, depois de postar o "de eternidade", encontrei o dito cujo pela frente e criei coragem para publicá-lo.
Lá vai...

de uma filha

Anos atrás, num fim de tarde de uma segunda-feira de novembro, depois de um intervalo de dois anos do nascimento do então caçula, veio ao mundo uma menina que se revelaria, desde os primeiros passos, alguém que se impunha.
Ou com a graça natural que possuía ou mesmo pelo gênio (=caráter).
Foi assim que, mesmo sendo a menor dos quatro, disputava espaço até mesmo com o irmão mais velho, não raro colocando-o em situações difíceis para “defender” sua condição de primogênito.

Cresceu com a graça de Deus, experimentando vitórias e fracassos. De menininha virou garota, depois jovem e hoje é mulher. Bela como a mãe e a irmã mais velha.
Teimosa como ela só, insistindo em seus projetos com argumentos ou artimanhas próprias da juventude que traz no rosto, no sorriso, no olhar, no jeito ao mesmo tempo meigo, despojado e decidido.

Seguiu caminhos nunca dantes percorridos, disfarçando no sorriso faceiro o medo que sentia lá no fundo, sempre disposta a fazer história, ocupar o seu lugar no mundo.
Num primeiro momento, talvez pela pujança natural da juventude, sem se importar com o preço a pagar e, por isso, experimentou (alguns) revezes.
Depois, sinal de amadurecimento, pesando os prós e os contras, avaliando os riscos de cada possibilidade, escolhendo suas trilhas não tanto pelo impulso, mas com igual entusiasmo.

Encarou muitos desafios e, na grande maioria, os venceu. Alguns sozinha, outros com ajuda familiar, de amigos; todos com Deus ao seu lado.
Vitoriosa!
Partiu de casa com a bênção dos pais e a proteção da Virgem de Nazaré.
Para novas conquistas, outras vitórias.

Às vezes se esquece que é filha e se intromete em assuntos que não lhe dizem respeito. Haja atritos, sobretudo entre mãe e filha. Que sempre acabam contornados e ficam fazendo parte da trajetória de ambas.
Por vezes sou eu que me esqueço e, conversando pelo telefone, me vem à lembrança a menininha que um dia se assustou quando viu o pai sem barba pela primeira vez e foi se esconder, chorando, debaixo da cama.

Pois é, a menininha ficou para trás, e hoje está prestes a se tornar esposa e, se Deus quiser, futuramente também mãe. Para experimentar de perto o que é ter família, sofrer e ao mesmo tempo ter tantas alegrias.

Como eu tive e tenho...

de eternidade



É difícil falar de eternidade para quem ainda se encontra limitado pelo tempo e pelo espaço, pois o eterno vai para além disso.
Seria como definir eternidade como não sendo nem tempo nem lugar, um hoje sem fim, onde não existe nem um ontem nem um amanhã – tudo é agora!
Só o que podemos é supor, conjeturar, propor hipóteses, pois não há um padrão para a compararmos.
Assim, cada um pode ter sua ideia própria do que viria a ser a eternidade.

Fala-se de um julgamento final. E o imaginamos – só isso podemos fazer, por enquanto – tal como nos relata um trecho do evangelista Mateus.
Cristo ao trono, ao lado de Deus Pai e nós abaixo deles sendo separados entre os que gozarão as delícias do Reino e os que sofrerão os suplícios do inferno.
Imaginamos acena sob o prisma da temporalidade – um dia, um lugar. Porque é isso o que temos como parâmetro, nosso entendimento nos limita quanto ao que de fato se dará. Mesmo porque Jesus, para nos garantir da realidade desse desfecho não poderia descrevê-lo diferentemente para que o pudéssemos entender, ao menos em essência.

Contudo, abstraindo o tempo, podemos supor que, ao deixarmos este mundo – morrendo – já nos encontraríamos na eternidade. Ou seja, no “lugar” fora do tempo, quando tudo é “agora”.
Se assim for entraríamos de imediato na realidade em que todos seriamos – por assim dizer – contemporâneos: desde Adão, Abraão, Davi, Moisés, os profetas, nossos antepassados e nós.
Saindo do tempo nos depararíamos com a cena do julgamento e, por consequência, do veredito a nosso respeito: para onde iremos, enfim.

Esse pensamento possui, como os demais, as suas falhas. Onde ficaria, neste caso, o purgatório? Seria como alternativa ao julgamento?
E aquela imagem, também evangélica, do rico que se dirige ao “Pai Abraão” que está ao lado de Lázaro? Seria mera parábola utilizada por Jesus para “sacudir” os descrentes de sua época histórica?

Independentemente de ser acertada ou não a ideia que me acorreu, o importante é tratar cada dia que nos resta como o momento de parar de fazer bobagens e tomar avida a sério, conscientes de que a eternidade está às portas e não sabemos como será, de fato.
E viver melhor, observando o que temos recebido de orientação, de alerta, com o pensamento iluminado para deixar de seguir vivendo como se fossemos viver para sempre, porque é certo que iremos morrer um dia, mais tarde ou mais cedo.
E quando a morte acontecer é melhor que nos encontre preparados para que, na eternidade, alcancemos a verdadeira felicidade, sem os enganos que hoje procuram nos desviar do caminho que leva até ela.

Nada melhor do que sermos amigos do Rei, viver na sua amizade e na dos seus amigos, para que o futuro que ainda nos resta reserve para nós a verdadeira alegria que o mundo não pode nos oferecer, pois permanece para sempre, como nós nesta vida, limitado ao tempo e ao espaço que não conseguem domar a eternidade.

E digo isso em primeiro lugar a mim mesmo, pois não tenho garantia alguma de que terei lugar dentre os eleitos a estarem ao lado do Senhor na vida do mundo que há de vir e que não terá mais fim.
Afinal, apesar de querer fazer parte desse grupo, sou obrigado a reconhecer a fragilidade da minha fé e a necessidade de perseguir, neste mundo, a santidade, passaporte para viver a eternidade no gozo das delícias do Reino. Pois é, tenho quase nada de santidade, sequer aquele mínimo que – é opinião minha – deveria ser exigido de quem pretende ser habitante do paraíso.

Rezem por mim, talvez nos encontremos lá, onde não existe nem ontem nem amanhã.

Talvez...

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Pecados, demônios e tentações em Chaves


Roberto Gómez Bolaños, apelidado, num exagero quase perdoável, de “Pequeno Shakespeare”, é o criador de uma das mais sutis, brilhantes e temíveis representações do inferno em qualquer das artes: o seriado “Chaves”. Sartre escreveu em sua famosa peça “Entre Quatro Paredes”, de 1945, que “o inferno são os outros”. Não existe uma definição universalmente aceita sobre o conceito de in­ferno na tradição teológica ocidental. Segundo o historiador Jean Delumeau, no livro “Entrevistas Sobre o Fim dos Tempos”, o catolicismo tradicional, apoiando-se em Santo Agostinho, apregoava a “existência de um lugar de sofrimento eterno para aqueles que tiverem praticado um mal considerável nessa vida e dele jamais se tenha arrependido”. Essa noção, um tanto incongruente com a imagem de um Deus misericordioso, não prosperou fora do imaginário po­pular, sendo substituída pela so­lução do Purgatório, desenvolvida no século II, sobretudo, por Orígenas. Nin­guém mais estaria condenado para sempre, embora, excetuando-se os santos, todos tivessem que passar por um período variável de purificação, com a garantia da salvação ao final. Santo Irineu discordava. Para ele, “os pecadores confirmados, obstinados, se apartaram de Deus, também se apartaram da vida”. Portanto, após o julgamento final, os condenados seriam simplesmente apagados da existência.Por Ademir Luiz (Revista Bula)

A polêmica continuou pelos séculos dos séculos, com novos debatedores: Tomás de Aquino, Lutero, Joaquim de Fiore. Na literatura, Dante e Milton criaram visões poderosas do inferno. O trio de condenados de Sartre, os cenobitas sadomasoquistas de Clive Barker e os pecadores amaldiçoados de Roberto Bolaños são recriações contemporâneas perturbadoras.
Sim, Roberto Bolaños. Não, não se trata do falecido ficcionista chileno Roberto Bolaño (1953–2003), autor do calhamaço “2666”. O Bolaños com S é um artista infinitamente superior. Refiro-me ao ator, escritor e diretor mexicano Roberto Gómez Bolaños, apelidado, num exagero quase perdoável, de Chespirito, ou “Pequeno Shakespeare” à mexicana. Ele é o criador de uma das mais sutis, brilhantes e temíveis representações do inferno em qualquer das artes: o seriado “Chaves”. Se, conforme ensinou Baudelaire, “a maior artimanha do demônio é convencer-nos de que ele não existe”, podemos concluir que esse mesmo demônio não iria apresentar seus domínios por meio de estereótipos: escuridão, chamas, tridentes, lava. Em “Chaves”, verdadeiramente, “o inferno são os outros”.
Bolaños encheu sua criação de sinais que devem ser decodificados para que se revele seu verdadeiro sentido de auto moralizante. O primeiro e mais importante é o título. Originalmente, o seriado chama-se “El Chavo Del Ocho”, ou traduzindo do espanhol: “O Moleque do Oito”. Ninguém sabe o verdadeiro nome do protagonista, que nunca foi pronunciado. Cha­mam-no apenas de “Moleque”. O nome próprio Chaves é uma adaptação brasileira, uma corruptela da palavra “chavo”. É certo que um “chavo”, ou “moleque”, é quem faz molecagens; quem subverte a ordem do que seria moral e socialmente aceito como correto. Em livre interpretação, o “moleque” é um pecador. Portanto, o seriado trata de pecados. Não de pecados mortais, pois do contrário dificilmente seus personagens gerariam simpatia, mas, com certeza, de pecados capitais.
Ao contrário do que muitos acreditam, o protagonista não mora em um barril, mas na casa número 8. Sendo órfão e morador de rua, foi recolhido por uma idosa, que jamais foi mostrada; e que talvez não exista. Se existir é a morte materializada, pois habita o 8. Basta deitar o numeral 8 que obtemos o símbolo do infinito. A morte é infinita, pois não há vida antes da vida e após a vida volta-se a condição anterior. A vida pode ser medida pelo tempo, o antes e o depois é, por definição, infinito. O nada infinito, a graça infinita ou a purgação infinita.
Essa vila do “8” nada mais é do que um pedaço do Inferno, especialmente preparado para receber seus hospedes, mortos e condenados no julgamento final. Uma variação cômica de “Entre Quatros Paredes”, onde duas mulheres e um homem (além de um mordomo… mas o comunista Sartre não considerou o representante da classe proletária um personagem pleno) são obrigados a se suportarem mutuamente pela eternidade, num ciclo infindável de acusações e violência. Não é difícil imaginar a cena: Chiquinha chuta a canela de Quico e faz seu pai pensar que o menino foi o agressor, enervado Seu Madruga belisca Quico, que chama Dona Florinda, que acerta um tapa no vizinho gentalha, que descarrega a raiva no Moleque, que atinge o Seu Barriga quando ele chega para cobrar o aluguel. Enquanto isso, o professor Girafales, queimando de desejo, bebe café, com um buquê de rosas no colo, sem desconfiar a causa, motivo, razão ou circunstância de tanta repetição.
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O cenário é um labirinto rizomático, sem centro, começo nem fim. Saindo da vila caem em uma rua estreita que leva a um pequeno parque, um restaurante e uma apertada sala de aula. As variações, como Acapulco, são exceções que confirmam a regra. O universo dos personagens se resume a esse espaço claustrofóbico, onde um ambiente leva a outro que leva a outro que leva a outro, indefinidamente.
Os pecados que cometeram em vida transparecem em suas características, medos e frustrações. Chaves, o Moleque, sempre faminto, cometia o pecado da gula. Glutão inveterado, sua preferência por sanduiche de presunto indica desprezo pelas leis de Deus, que proibiu o consumo de porco, esse animal sujo e de pé fendido. Inimigo de qualquer autoridade moral, apelidou seu professor de “Mestre Linguiça”, outra referência a malfadada iguaria suína.
Seu Madruga, que têm muito trabalho para continuar sem trabalhar, cometia o pecado da preguiça. Exigem redobrados esforços suas estratégias de fuga, para não pagar os indefectíveis 14 meses de aluguel. Que nunca se tornam 15 meses, denotando que a passagem do tempo está suspensa. Não é necessário lembrar que 7 + 7 é igual a 14 e que, na tradição crística, 70 x 07 simboliza o infinito. Da mesma forma que o 8, o símbolo de adição deitado torna-se o de multiplicação. Deus mora nos detalhes.
A ganância de Seu Barriga é óbvia. Quem mais cobraria o aluguel mensal praticamente todos os dias? Os golpes que o Moleque lhe aplica sempre que chega a vila faz parte de sua punição. O fato de possuir como veículo uma Brasília amarela liga-o imediatamente ao país Brasil, indicando que em vida deve ter se envolvido em escândalos de corrupção. Terry Gilliam não escolhe títulos ao acaso.
O pequeno marinheiro Quico, o menino mais rico da vila, é movido pela inveja. Sempre que vê um de seus pobres vizinhos se divertindo com um surrado brinquedo, cobiça aquela alegria simplória e vai buscar um dos seus, sempre maior e melhor, mas que nunca lhe dá satisfação. O brinquedo do outro, mesmo sendo obviamente inferior, sempre lhe parece mais interessante. Um círculo vicioso de inveja, jamais saciada.
Chiquinha é marcada pela personalidade intolerante, raivosa. Imitando o Pateta, usava o automóvel como uma arma potencializadora de sua ira. Morrendo em uma briga de trânsito, na vila, tenta fazer o mesmo com o triciclo. Não foram poucas as vezes que atropelou pés e brinquedos. Mas a musa que canta a ira do poderoso Aquiles não se ocupa da ira insignificante de Francisquinha. Sendo a menor e fisicamente mais fraca da vila, só lhe resta chorar, chorar e chorar.
Dona Florinda e o Pro­fessor Girafales foram libertinos do porte do Marquês de Sade e Messalina (ou os próprios). Mestres na arte da luxúria, acabaram condenados a eternidade de abstinência sexual. Frigida e impotente, a mente almeja, mas o corpo não acompanha. Consomem infindáveis xícaras de café que, com propriedades estimulantes, alimentam ainda mais o fogo que não podem debelar. O professor Girafales fuma em sala de aula não porque “El Chavo Del Ocho” foi gravado antes da praga politicamente correta, mas devido ao fato dele ser portador do célebre cacoete pós-coito de acender um cigarro, fazer um aro de fumaça no ar e perguntar “foi bom para você?”. Incapaz de cumprir a primeira parte do ritual erótico, involuntariamente reproduz a segunda. Não por acaso, a trilha sonoro de seus encontros é a mesma de “… E o Vento Levou”. A frase final do filme é “amanhã será outro dia”. Na vila, sempre haverá outro dia e outra xícara de café.
Dona Clotilde, a bruxa do 71, padecia de extrema vaidade. O gênio de Bolaños teve a sutileza de convidar uma ex-miss, a espanhola Angelines Fernández, para interpretar a personagem. Novamente o signo de uma condenação eterna aparece: 71 nada mais é do que 7+1=8. O animal de estimação de Dona Clotilde, significativamente chamado de Satanás, chama atenção para outro elemento importante. A presença de diversos demônios errantes na vila. Trata-se de uma besta transmorfa. Em alguns episódios satanás é um gato, em outros um cão. Diferente do paradoxo do coelho-pato de Jastrow, Wittgenstein e Thomas Kuhn, que servia ao desenvolvimento da razão, o gato-cão é uma representação do misticismo, o cão em “pessoa”.
Em 1589 o teólogo Peter Binsfeld, no livro “Binsfeld’s Classification of Demons”, estabeleceu que cada um dos sete pecados capitais possui um patrono infernal. Sintoma­tica­mente, Lúcifer, nome pelo qual muitos chamam satanás, gera a vaidade. Os outros são Asmodeu que gera a luxúria, Belzebu a gula, Mammon a ganância, Belphegor a preguiça, Azazel a ira e Leviatã a inveja. Não nos enganemos: eles rondam a vila. Aparecem circunstancialmente, para promover desordem, dor e tentação.
Se o gato-cão Lúcifer/Satanás ajuda a difundir o boato de que Dona Clotilde é uma bruxa, me parece óbvio que a bela menina Paty e sua tia Glória são Belzebu e Belphegor metamorfoseados em súcubos, demônio sexuais femininos, prontos para atiçar outros apetites no Moleque e tirar Seu Madruga de seu estado de letargia. Por sua vez, o galã de novelas Hector Bonilla, que visitou a vila, nada mais é do que Asmodeu na forma de um íncubo, demônio sexual masculino, com a missão de tumultuar a relação do casal de libertinos castrados. Nhonho é Mammon, instigando o pai avaro a gastar. Popis é Azazel, esmerando-se em despertar a ira de Chiquinha com sua futilidade enervante. Godinez é Leviatã atiçando a inveja de Quico, com suas respostas tão certeiras quanto involuntárias ao Mestre Linguiça. Figuras de pouca relevância como Dona Neves, Seu Furtado, os jogadores de ioiô, os alunos anônimos na escola, os clientes do restaurante, o pessoal do parque e do festival da boa vizinhança, além de outros coadjuvantes, são entidades demoníacas menores, com a função de criar a ilusão de normalidade.
De fato, os frequentadores da vila parecem inscientes de sua condição. Os adultos por serem alto centrados. As crianças por estarem duplamente amaldiçoados, regredidos a condição infantil, talvez como espelho da imaturidade emocional que os levaram a conduta pecadora. Enquanto muitas pessoas sonham em possuir a experiência da maturidade em um corpo jovem, eles mantiveram o corpo que possuíam na hora da morte, mas quase sem nenhuma experiência. Essas são as sutilezas da burocracia infernal.
O carteiro Jaiminho, em sua função de portador de mensagens, é o único representante do lado de cá. Um médium que tenta fazer contato com essa outra dimensão. Seu constante estado de fadiga é resultado do esforço sobre-humano necessário para cruzar as dimensões. Prova disso é a descrição que Jaiminho dá de sua terra natal, Tangamandápio. A despeito de existir de fato, sendo localizada a noroeste do Estado mexicano de Micho­acán, trata-se de uma alegoria. Se­gundo o carteiro, tudo em Tangamandápio é colossal. Seria maior do que Nova York e teria uma população de muitos milhões de habitantes. O que poderia ser tão grande? Obviamente, ela não se refere a uma única localidade isolada, mas a todo o planeta; a  terra dos vivos. As cartas que transporta são psicografias e a bicicleta que nunca larga, apesar de não saber andar, nada mais é do que um totem, ao estilo de “A Origem”, necessário para que possa voltar para realidade.
Em “El Chavo Del Ocho”, Bolanõs, o Camus asteca, criou sua própria versão do mito de Sísifo. O Moleque e companhia estão condenados a empurrar inutilmente por uma ladeira íngreme essa imensa pedra chamada cotidiano, que sempre rola de volta, obrigando-os ao tormento do eterno retorno. A pedra de Quico é quadrada, não rola, desliza. É cômico, apesar de trágico.
(Transcrito do Blog do Gerson - http://blogdogersonnogueira.wordpress.com/2013/08/23/pecados-demonios-e-tentacoes-em-chaves/)
Achei interessante esse post que recebi por e-mail e decidi publicar, para compartilhar com os que não têm acesso ao Blog do jornalista do Diário do Pará.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

A pequena Lina


O texto abaixo, que recebi há poucos dias, é o resumo de um poema muito bonito, que era declamado em palco na forma de monólogo.

O título do poema é "O Beijo do Papai" e me foi apresentado por aquela que hoje me acompanha como esposa.
Uma lição de amor e ternura, uma 'clareira' de esperança no meio do ambiente triste de uma guerra.

Eis o link para o original: http://www.planetamais.com.br/view/mensagem/?detail=102


A Pequena Lina

 Conta-se que, no tempo da guerra entre a Rússia e o Japão, certa tarde, após cessarem os bombardeios, junto à linha de fogo surgiu uma criança, com o olhar curioso e indagador, como quem procura descobrir um semblante amistoso naquele triste campo de batalhas.
Ao ver a pequena, um bravo soldado japonês que podia dominar a língua eslavo-oriental, tomando em suas mãos calosas as acetinadas mãozinhas da criança, indagou com ternura:
-O que deseja, minha pequena? Está procurando algo no meio da tropa? Quem é você? De onde vem? Qual é o seu nome?

-Meu nome é Lina. Estou procurando o papai, que há muito tempo não vejo. Sinto tanta saudade. Desejava vê-lo agora.
-Que pena... O seu papai já não está mais aqui. Ele seguiu em frente. Posso lhe dar algum recado? Fale-me como ele é e vou procurá-lo e dar suas notícias. Está bem?
-É fácil distinguí-lo... Meu pai é alto, forte, tem olhos azuis como os meus e um bonito rosto barbado. Os cabelos também são loiros.
E a criança, esperançosa, tirou do bolsinho do avental uma foto do pai, dizendo sorridente:
-Dou-lhe esta foto para que o reconheça. Ele se chama Ivan.
O soldado, comovido, colocou o retrato no bolso da sua túnica e indagou com enorme carinho:
-Bem, agora qual é o recado que vai deixar comigo para o seu papai?
-Não é nenhum recado que eu quero que lhe dê...
-Então o que é? Pode falar que eu prometo fazer o que pede.
-Sim, eu quero que chegue juntinho dele e entregue esse meu beijo.
Assim dizendo, a pequena pulou ao colo do soldado e beijou-lhe o rosto umedecido pelas lágrimas e voltou correndo por onde havia chegado.
Durante toda aquela noite foi intenso o bombardeio e num assalto a tropa japonesa conquistou o inimigo. Os feridos começaram a ser recolhidos indistintamente. Nisto, aquele soldado japonês viu passar, carregado, um soldado cujas feições se assemelhavam muito às da criança. Tirou a foto do bolso e conferiu. Não havia dúvidas. Era ele. O soldado o chama:
-Ivan?
-O que deseja?-respondeu o russo ferido.
-Trago comigo um carinhoso beijo que Lina, sua filhinha lhe enviou.
Dizendo isto, beijou a fronte do inimigo ferido e o abraçou ternamente.
Não havia ali lugar para o ódio...
Foi o que o soldado aprendeu com Lina.

O Samurai


O Samurai

Na China vivia um grande samurai, já idoso, que agora se dedicava a ensinar o zen-budismo aos jovens.
Apesar de sua idade, corria a lenda de que ainda era capaz de derrotar qualquer adversário.
Certa tarde, um guerreiro - conhecido por sua total falta de escrúpulos - apareceu por ali.
Era famoso por utilizar a técnica da provocação: esperava que seu adversário fizesse o primeiro movimento e, dotado de uma inteligência privilegiada para reparar os erros cometidos, contra-atacava com velocidade fulminante.
O jovem e impaciente guerreiro jamais havia perdido uma luta.
Conhecendo a reputação do samurai, estava ali para derrotá-lo, e aumentar sua fama.
Assim, o jovem guerreiro desafiou o idoso samurai para uma luta.
Todos os estudantes se manifestaram contra a idéia, mas o velho aceitou o desafio.
Foram todos para a praça da cidade, e o jovem começou a insultar o velho mestre.
Chutou algumas pedras em sua direção, cuspiu em seu rosto, gritou todos os insultos conhecidos - ofendendo inclusive seus ancestrais.
Durante horas fez tudo para provocá-lo, mas o velho permaneceu impassível.
No final da tarde, sentindo-se já exausto e humilhado, o impetuoso guerreiro retirou-se.
Desapontados pelo fato de que o mestre aceitar tantos insultos e provocações os alunos perguntaram:
- Como o senhor pode suportar tanta indignidade? Por que não usou sua espada, mesmo sabendo que podia perder a luta, ao invés de mostrar-se covarde diante de todos nós?
- Se alguém chega até você com um presente, e você não o aceita, a quem pertence o presente? - perguntou o samurai
- A quem tentou entregá-lo - respondeu um dos discípulos.
- O mesmo vale para a inveja, a raiva, e os insultos - disse o mestre.
-Quando não são aceitos, continuam pertencendo a quem os carregava consigo.


Transcrito do site PlanetaMais, através do link abaixo:
http://www.planetamais.com.br/view/mensagem/?detail=163

noticiário policial

Não costumava gastar meu tempo lendo as páginas do noticiário policial, até que alguém me disse que as lia para examinar as fotos, sobretudo as de criminosos e suspeitos – eram olhares perdidos, rostos inexpressivos ou mesmo sórdidos, onde se podia perceber claramente o retrato do ser humano sem Deus. Passei a encarar de modo diferente o caderno de “Polícia”, constatando ser verdadeira a afirmação de quem me convencera.
Isso para explicar porque me chamou a atenção a leitura de duas matérias desse caderno. A primeira delas sobre o caso da menina Isabella Nardoni, que teria sido assassinada pelo próprio pai, com ajuda da madrasta. A outra sobre o menino de 13 anos que teria matado sua família – quatro pessoas mortas com tiros na cabeça. O primeiro crime ocorreu em 2008 e comoveu boa parte do País; o segundo na semana passada. Ambos em São Paulo, a maior cidade do Brasil.
No primeiro caso teria havido um “linchamento moral” dos acusados, com o casal sendo condenado pela opinião pública antes mesmo do veredito do júri. Isso porque um exame realizado nos Estados Unidos e recentemente divulgado alterava o raciocínio utilizado para a condenação do casal à época e que poderá, segundo a defesa, causar uma reviravolta no caso que já se presumia concluído.
No outro caso, a reportagem revela que o menino supostamente assassino de seus familiares teria aprendido a atirar com o próprio pai, que era integrante da ROTA, a patrulha de choque da PM paulista.

Registro essas reportagens sem tomar partido, apenas para ilustrar o pensamento que, parece-me, consta de quase todas as constituições de países livres do mundo: “Todos são inocentes até que se prove o contrário”. Se não é exatamente assim, é algo parecido.
Na prática, porém, se vê que não é bem dessa forma que acontece. O casal do primeiro evento já estava condenado antes mesmo de ser julgado. A opinião pública já havia decidido assim. Nas cadeias do Brasil se encontram pessoas, homens e mulheres que, por não disporem de recursos para bancar advogados capazes de provar sua inocência, apodrecem no cárcere. Boa parte delas foi condenada da mesma forma que aquele casal.
Não entro no mérito do caso Nardoni, pois não os estou defendendo, mas manifesto meu repúdio pelo pré-julgamento, pela condenação antecipada.
É o que acontece em quase todas as esferas da vida. O exemplo que utilizei é apenas isso – um exemplo. Na vida afora agimos da mesma forma e, não poucas vezes, nem nos apercebemos disso, correndo o risco de execrar pessoas sem qualquer embasamento concreto.
Fazemos uma imagem de alguém, um julgamento segundo nossos conceitos particulares e os ‘condenados’ é que precisam provar que não são aquilo que deles pensávamos. Quantos equívocos de consequências drásticas nascem disso? Essas pessoas são condenadas inapelavelmente pelo nosso ‘júri interior’, que não raro se recusa rever o ‘processo’, mantendo irreversível o resultado inicial.

O caso do menino que fora ensinado pelo pai a atirar – se foi ele mesmo quem assassinou sua família e depois cometeu suicídio – me leva a refletir na origem do problema, justamente a família.
Tanta coisa boa a ensinar a um garoto e o pai se ocupa de fazê-lo um atirador! Talvez sonhasse em vê-lo herdando sua profissão, ou tivesse a intenção de prepará-lo para se defender de criminosos... Talvez!
Além disso, uma de suas diversões era jogar games de violência, que muitos pais permitem sob a desculpa de servirem para que os pequenos extravasem no mundo virtual o que não lhes é permitido fazer no mundo real.
Esquecem, contudo, que para que assim ocorra, a pessoa precisa ter exata noção dos ‘mundos’ e também uma consciência formada que lhe sirva de guia e controle os seus impulsos. Ora, se existem adultos que confundem não poucas vezes os limites, quanto mais um adolescente!
Ambos os casos – o julgamento sem bases concretas e educação familiar (ou a falta dela) – são protótipos de uma realidade triste de como se encontra o mundo em que vivemos. Amanhã não se falará mais disso, pois não renderão manchetes para jornais e revistas, serão lançados no limbo do esquecimento pela mídia e pela opinião pública.
As pessoas que foram afetadas por todo esse processo, porém, os sobreviventes, terão que carregar consigo, possivelmente pelo resto da existência, o estigma, as cicatrizes na alma. Que talvez o tempo amenize, venha até a curar. Talvez!


terça-feira, 20 de agosto de 2013

Frase para reflexão

A frase abaixo me chegou por e-mail e achei oportuno compartilhar com a minha meia dúzia de três ou quatro leitores.


"Vivo sem viver em mim,
e tão alta vida espero,
que morro porque não morro
"

Santa Teresa de Jesus (Teresa D'Ávila)
padroeira do Seminário Redemptoris Mater de Eger, na Hungria.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A parábola da rosa


Um homem plantou uma rosa e passou a regá-la constantemente.
Antes que ela desabrochasse, ele a examinou e viu o botão que em breve desabrocharia, mas notou espinhos sobre o talo e pensou: “Como pode uma flor tão bela vir de uma planta rodeada de espinhos tão afiados?”
Entristecido por este pensamento, ele se recusou a regar a rosa antes mesmo de estar pronta para desabrochar, e ela morreu. Assim é com muitas pessoas.
Dentro de cada alma há uma rosa: São as qualidades dadas por Deus. Dentro de cada alma temos também os espinhos: São as nossas faltas.
Muitos de nós olhamos para nós mesmos e vemos apenas os espinhos, os defeitos.
Nós nos desesperamos, achando que nada de bom pode vir de nosso interior.
Nós nos recusamos a regar o bem dentro de nós, e consequentemente, isso morre. Nunca percebemos o nosso potencial.
Algumas pessoas não veem a rosa dentro delas mesmas. Portanto alguém mais deve mostrar a elas.
Um dos maiores dons que uma pessoa pode possuir ou compartilhar é ser capaz de passar pelos espinhos e encontrar a rosa dentro de outras pessoas. Esta é a característica do amor.
Olhar uma pessoa e conhecer suas verdadeiras faltas. Aceitar aquela pessoa em sua vida, enquanto reconhece a beleza em sua alma e ajudá-la a perceber que ela pode superar suas aparentes imperfeições. Se nós mostrarmos a essas pessoas a rosa, elas superarão seus próprios espinhos. Só assim elas poderão desabrochar muitas e muitas vezes.
Portanto sorriam e descubram as rosas que existem dentro de cada um de vocês e das pessoas que amam…
Autor desconhecido
Retirado do livro “Sabedoria em Parábolas”

Transcrito do site da Editora Cléofas, conforme link abaixo:

O Tesouro de Bresa


O Tesouro de Bresa

Certa vez, na Babilônia, viveu um pobre e modesto alfaiate chamado Enedim, homem inteligente e trabalhador, que não perdia a esperança de vir a ser rico.
Um dia, parou na porta de sua humilde casa, um velho mercador da fenícia, que vendia uma infinidade de objetos extravagantes.
Por curiosidade, Enedim começou a examinar as bugigangas oferecidas, quando descobriu, entre elas, uma espécie de livro de muitas folhas, onde se viam caracteres estranhos e desconhecidos.
Era uma preciosidade aquele livro, afirmava o mercador, e custava apenas três dinares!
Enedim negociou e acabou comprando o livro por apenas dois dinares.
Logo que ficou sozinho, Enedim tratou de examinar, sem demora, o bem que havia adquirido.
Qual não foi sua surpresa quando conseguiu decifrar, na primeira página, a seguinte legenda: "o segredo do tesouro de Bresa."
Que tesouro seria esse?
Enedim recordava vagamente de já ter ouvido qualquer referência a ele, mas não se lembrava onde, nem quando.
Mais adiante decifrou: "o tesouro de Bresa, enterrado pelo gênio do mesmo nome entre as montanhas do Harbatol, foi ali esquecido, e ali se acha ainda, até que algum homem esforçado venha encontrá-lo."
Muito interessado, o esforçado tecelão dispôs-se a decifrar todas as páginas daquele livro, para apoderar-se de tão fabuloso tesouro.
Mas, as primeiras páginas eram escritas em caracteres de vários povos, o que fez com que Enedim estudasse os hieróglifos egípcios, a língua dos gregos, os dialetos persas e o idioma dos judeus.
Em função disso, ao final de três anos Enedim deixava a profissão de alfaiate e passava a ser o intérprete do rei, pois não havia na região ninguém que soubesse tantos idiomas estrangeiros como ele.
Passou a ganhar muito mais e a viver em uma confortável casa.
Continuando a ler o livro encontrou várias páginas cheias de cálculos, números e figuras.
Para entender o que lia, estudou matemática com os calculistas da cidade e, em pouco tempo, tornou-se grande conhecedor das transformações aritméticas.
Graças aos novos conhecimentos, calculou, desenhou e construiu uma grande ponte sobre o rio Eufrates, o que fez com que o rei o nomeasse prefeito da Cidade.
Ainda por força da leitura do livro, Enedim estudou profundamente as leis e princípios religiosos de seu país,sendo nomeado primeiro-ministro daquele reino, em decorrência de seu vasto conhecimento.
Passou a viver em suntuoso palácio e recebia visitas dos príncipes mais ricos e poderosos do mundo.
Graças a seu trabalho e ao seu conhecimento, o reino progrediu rapidamente, trazendo riquezas e alegria para todo seu povo.
No entanto, ainda não conhecia o segredo de Bresa, apesar de ter lido e relido todas as páginas do livro.
Certa vez, teve a oportunidade de questionar um venerando sacerdote a respeito daquele mistério, que sorrindo esclareceu:
- O tesouro de Bresa já está em seu poder Enedim, pois graças ao livro você adquiriu grande saber, que lhe proporcionou os invejáveis bens que possui. Afinal, Bresa significa saber e Harbatol quer dizer trabalho.

Transcrito do site PlanetaMais, através do link abaixo:

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

De volta para o futuro


De volta para o futuro
Estamos – pelo menos eu estou, na hora em que desenvolvo estas ideias! – em agosto, depois de um movimentado final de junho e de um intenso mês de julho, quando muitas coisas aconteceram, várias delas merecendo registro.
Começou com a chegada do Thiago, meu filho que é seminarista em Eger, na Hungria. Foi logo no primeiro dia de julho – primeira noite, para ser mais específico. Os preparativos para a JMJ – Jornada Mundial da Juventude – no Rio de Janeiro tomavam parte do tempo, mas conseguimos oportunidades para conversar um pouco.
Em seguida vieram os poloneses – um grupo de cerca de cem jovens polacos do Caminho Neocatecumenal, com seus catequistas e presbíteros – que aportaram na (ainda) Cidade das Mangueiras para fazer por estas plagas a sua pré-jornada. Foi uma semana bastante intensa, sobretudo depois que os catequistas responsáveis pela região seguiram para o Rio com seus grupos. Mas Deus conduziu bem e fez com que tudo corresse a contento. Para nós e para eles. Espero que tenham tirado bom proveito de tudo o que viveram por aqui.
Veio então a JMJ, que acompanhamos pela TV e pudemos constatar a fidelidade do Senhor, que nos deu de presente Francisco, o papa argentino que encantou o Brasil. Sua palavra ainda ecoa em nosso meio, como consolo mas também como exortação a um permanente exercício de santidade, que passa pelo serviço, pela humildade, pela entrega de si mesmo em favor do outro, que é Cristo.

Além do Thiago, que veio da Hungria, chegaram também o Clésio, o “padre canguru”, que é missionário na Austrália – e pertence à minha comunidade – e o Bruno, seu sobrinho, que é seminarista em Curaçao. Vieram para a JMJ e permanecem entre nós durante algum tempo, em gozo de férias.
Com o retorno dos peregrinos passamos a aproveitar de suas experiências, colocadas em comum desde o último sábado, dia 3. Momentos impressionantes para quem os viveu e também para os que compartilharam, verdadeiro presente para incentivar todos a seguir as pegadas do Ressuscitado.

Porém hoje, dia 7, um pequeno rompimento: Thiago embarcou de volta para a Hungria, colocando um final às suas férias deste ano. Segue para Budapeste, onde será orientado sobre como prosseguir até o retorno às aulas, já em setembro. Fará conexão em Fortaleza, onde será acolhido por algumas horas pela família do Carlos e da Márcia, missionários itinerantes no Nordeste, deixando o Brasil à noite e rumando para a Europa, onde Deus o quer, pelo menos durante algum tempo.
Segue para fazer a vontade de Deus, contando com as nossas orações e com a misericórdia do verdadeiro Pai. Como eu mesmo deveria fazer e nem sempre consigo, assemelhando-me, por isso, a terra coberta de espinhos da parábola do semeador.
Vendo meu filho partir e sua mãe que não consegue segurar as lágrimas, enxergo nisso um recado para mim: encarar com seriedade o processo de conversão, mudar de vida de verdade, indo bem além das palavras e permitindo ao Senhor dar continuidade à santificação do meu tempo neste mundo.
Pois me vejo correndo o risco de ser deixado do lado de fora do Reino que tantas vezes celebrei e celebro, anunciando-o a outros em diversos momentos, mas que parece tão fora do meu alcance quando contemplo o que dele tenho de fato vivido no meu dia-a-dia.


Não conheço o futuro, não tenho bola de cristal nem conheço ninguém que dele me dê notícias, boas ou más. Tenho apenas a expectativa de uma promessa, a possibilidade de alcançá-lo algum dia, quando enfim poderei contemplá-lo e constatar se as perspectivas que havia antes eram acertadas ou não; o que de nada me valerá, contudo!
A certeza que tenho é de caminhar para esse futuro, na esperança de que não seja um caminho de regresso, de que se realizem as alegrias prometidas e não mais venha a precisar da catarse das palavras que hoje transmitem minhas aspirações mais profundas e o meu desejo de santidade, ainda bastante precária, em etapa pré-embrionária.
É isso...

Em 07 de agosto de 2013.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Eu e o futebol



Como faço parte de uma geração que cresceu numa cidade provinciana, fui habituado a escolher não um só, mas três times de futebol para serem as minhas “paixões clubistas”.

Cedo me rebelei com a imposição paterna e rejeitei o chamado “time de Periçá”, optando – abertamente apenas na adolescência – pelo “clube de Suíço”, o “bicolor de zinco” [se der tempo, conto a história desse “título”]. Isso em termos regionais.

Os outros dois times deveriam ser, pela expressão que possuíam à época, do Rio de Janeiro e de São Paulo. Mesmo querendo fugir à influência de meu pai, acabei ficando com o rubro-negro carioca, que nesse período não andava bem das pernas. A escolha se deu mais por exclusão, em vista das opções que havia: um era chamado de “pó-de-arroz”, e isso não me soava bem aos ouvidos; outro era ligado à colônia portuguesa e eu andava com raiva do dono da padaria da rua, que acabara de furar diversas bolas nossas que caíram em seu quintal. Havia ainda outro time, que ostentava uma “estrela solitária”, que me parecia bastante depressiva naquela ocasião.
O time de São Paulo foi escolhido já na juventude, acho que levado pelo fato de enfrentar uma situação quase dramática nesse tempo: havia décadas que não conquistava um título e vivia servindo de saco de pancadas para o time de “Pelé & cia”, então no seu auge. Lembro-me de ter me sentido “vingado” quando acompanhei – pelo rádio, pois ainda não havia transmissões pela TV para estas bandas – a “quebra do tabu”. Foi também memorável a comemoração do campeonato paulista de 1977, quando acabou o “jejum de títulos”. Eu trabalhava no Interior e naquela noite de quarta-feira vibrei bastante depois que terminou o jogo contra a Ponte Preta. Até ajudei a explodir um camburão de lixo na praça da cidade... Quase não fui trabalhar no dia seguinte.

Falando em noites memoráveis veio à lembrança uma de 1972, esta em Belém. Decisão de campeonato e Remo e Paysandu se enfrentavam pela terceira e última vez, depois de dois empates. Quem vencesse seria campeão. Eu acompanhava o jogo pelo rádio, pois não pude ir ao estádio. Mesmo jogando bem, o bicolor perdia de 1x0 ao terminar o primeiro tempo. Eram já mais de dez da noite quando começou o segundo tempo e não demorou para que eu ouvisse o locutor vibrar narrando 2x0 para o Remo. Aborrecido desliguei o radinho e fui deitar, preparando o espírito para as gozações do dia seguinte na escola.

O sono já me dominava quando fui despertado: “João, o Papão é campeão!” – demorei a concatenar as ideias e me dar conta do que havia acontecido. À base da raça o Paysandu conseguiu empatar o jogo então desfavorável e levar a partida – a derradeira – para a prorrogação; já quase ao final conseguira assinalar mais um gol e assim se sagrou campeão paraense daquele ano.

Voltarei ao assunto em outra oportunidade.


terça-feira, 30 de julho de 2013

coincidências



No último domingo de julho diversas coisas me chamaram a atenção, todas elas ligadas à Jornada Mundial da Juventude, que eu acompanhei em espírito – e também pela TV.
Estava eu centrado no discurso do Santo Padre aos voluntários da JMJ quando, em determinado momento, ele convidava os jovens a se rebelarem contra a catequese do mundo e os exortava a abraçarem o compromisso a que Deus os impelia. Seja o matrimônio, seja a vida consagrada – com as peculiaridades que tanto um quanto outro apresentam, suas alegrias, suas cruzes.
E revelava ter sido chamado à vida religiosa num dia específico – 21 de setembro, aos 17 anos. Não resisti a fazer as contas – o Papa tem 76 anos, logo, aquela data parecia ter sido exatamente o dia, mês e ano em que eu – pois é, justo este escriba paraoara – vinha ao mundo.

Uma coincidência que me colocou em xeque, fazendo-me refletir que não tenho o direito de brincar com a minha vida, a minha história. Antes, preciso colocá-la em sua verdadeira dimensão, abraçá-la e direcioná-la para aquilo que deve ser o seu caminho – a santidade.
Calar a voz interior quando ela me retira do seguimento de Cristo, oferecendo-me ilusões que se desvanecem e me levam a buscar atalhos para uma felicidade que não resiste às intempéries da vida real. Aceitar a eleição que Deus fez de mim, chamando-me para o seu rebanho, apesar de minhas muitas resistências, minhas rejeições, minha teimosia em querer ser o condutor de uma história que pretende colocar Deus do lado de fora, querendo acreditar que eu me bastava, que poderia seguir adiante, chegar à felicidade perseguida com minhas próprias forças, apenas com o meu esforço.

Hoje vejo desfilar ante meus olhos uma série de coincidências que sinto não serem somente isso, meros acidentes, sem constituírem um sinal indefectível de que Deus fala, grita até, insistindo para que eu deixe de lado essa loucura que é permanecer alienado, mentindo a mim mesmo que tenho capacidade para gerir minha existência.
E seguir suas pegadas com a humildade que ele me oferece, aguardando com paciência – também recebida dele – que se complete o tempo em que toda essa expectativa se transformará em realidade.

Se for logo, bendito seja o Senhor! Se demorar, também seja bendito o Senhor, pois quer que eu aproveite esse intervalo que me proporciona para que me reconcilie comigo mesmo, com a minha história, com as pessoas que ele coloca na minha vida.

Tudo isso para que, chegando ao fim da jornada, eu possa enfim dele escutar: “Vem, bendito do meu Pai... Vem para o Reino que tenho preparado para ti...”

É essa a minha esperança...

Em 30/7/2013

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Sobre o Thiago



Hoje a Igreja celebra a festa do apóstolo São Tiago, um dos filhos de Zebedeu. Onomástico de um filho meu – que registrei com “Th” para que a soma das letras fosse a mesma de seus irmãos – que é seminarista do Redemptoris Mater de Eger, na Hungria.
Confesso que não conheço bem o “meu” Thiago. Lembro dele sempre caladão, parcimonioso no expressar suas opiniões, mas crítico, ponderado e dotado por Deus de uma visão de realidade que poucos jovens hoje possuem. Tornou-se, para a família, o agregador, o seu ponto de equilíbrio, como bem definiu sua catequista.
Mas também dado a brincadeiras sadias, extraindo risos saudáveis de situações cotidianas, aspecto revelado por ocasião da JMJ de Madri, em 2011, mesmo ano em que esteve na convivência de Porto San Giorgio e de lá foi enviado para a Hungria.

Parece-me, salvo engano de minha parte, bem diferente do apóstolo de quem toma emprestado o nome, baseado no que relatam os evangelhos. Se há – ou havia – nele o desejo dos primeiros lugares, sempre disfarçou com perfeição nas “disputas” que poderiam ter ocorrido com o irmão mais velho ou com a irmã caçula. Parecia sempre se contentar com o pouco, não me lembro de vê-lo exigindo nada, ainda que vez por outra manifestasse a sua vontade – um videogame [PS3], um celular avançado, notebook, a preferência para dirigir o carro da família...

Thiago está de férias no Brasil, veio disposto a ficar esse tempo todo em Belém. Não trazia o desejo de ir à Jornada Mundial da Juventude, queria mais era descansar; foi surpreendido com o empenho de seus catequistas daqui em colocá-lo num grupo que fosse à Jornada – seu responsável não o incluíra, pois já sabia da sua intenção de permanecer por aqui.

E lá foi o menino da Hungria para o Rio de Janeiro, ao lado dos jovens de Jesus Bom Samaritano. Foi só ele, pois o húngaro que o acompanharia deixou de vir à última hora. Aos poloneses que passaram por aqui recepcionou no aeroporto, esteve com eles na celebração na Basílica-Santuário e só. Ao terminar o sábado já estava a caminho do aeroporto, cujo voo deixou Belém na madrugada do domingo. Deve retornar entre segunda e terça-feira, concluída a JMJ, para uma última semana completa por aqui. Na manhã do dia 7 embarca de volta para a Europa.

Thiago foi o único dos filhos que deixaram nossa casa que me fez engasgar, sentindo as lágrimas chegarem e pedirem passagem. Disfarcei, mas no escondido acabei me rendendo à realidade – o menino que se ia levava com ele um pedaço de mim, talvez a única parte boa que eu consegui ter.

Não vai de vez, deve retornar no ano que vem – talvez esteja por aqui para o casamento da irmã caçula, em dezembro – e no futuro talvez estejamos reunidos novamente. Mas fico impressionado com a sua capacidade de se entregar à vontade de Deus de uma forma assim tão despojada, como eu creio que nunca ocorreria comigo. Lembro que lhe disse, antes que fosse à convivência em Roma, quando já estava em Madri, que não permitisse que o afeto, os sentimentos em relação à família fossem mais fortes que o atendimento ao chamado de Deus.
Ainda bem que ele me escutou e obedeceu.

Parece que alguém da família tem a cabeça no lugar...




Em 25/7/2013.

Palavras ao vento



A vida é interessante, tanto que por ela passamos muitas vezes sem nos determos para tomar consciência de que é uma só e que segue numa linha que se dirige para o infinito.
Não há paradas entre as etapas que se sucedem e não raramente somente descobrimos que uma delas se acabou quando experimentamos a fase seguinte. Cada uma delas é única em seus encantos e dificuldades, alegrias e tristezas.

Por isso tem razão quem afirma que faz parte de Sabedoria reconhecer o valor do tempo presente antes que se acabe, pois é o único em que podemos atuar – o amanhã é só um sonho e o ontem não existe mais.
Penso que por isso mesmo se chama «presente», pois é uma dádiva ter esse pedaço do tempo em que é possível sorrir, chorar, viver, enfim!

Dizia eu que a vida é interessante, bastante simples – nós é que a complicamos com nossos medos, indecisões, incertezas, frutos do que herdamos ou que fomos adquirindo durante a caminhada.

Muitas vezes precisamos ser “sacudidos” para que nos lembremos de que é necessário dar a ela o seu devido valor.
Infelizmente essas “sacudidas” costumam doer muito, porque nos encontram desprevenidos, desatentos, pois vivemos sem considerar que o nosso tempo neste mundo é passageiro, não ficaremos aqui eternamente.

Para uns o ter de partir é doloroso; para outros é um alívio. Em qualquer dos casos, porém, é uma certeza, concreta e inexorável. Taxativa mesmo.

Assim, o que poderia evitar esse impacto dilacerante?
Penso que poderíamos sorrir mais, chorar mais e sem vergonha de externar emoções e sentimentos que afloram no mais recôndito de nós. Dizer mais vezes “bom dia”, “como vai?”, “eu te amo”... Desejar mais vezes coisas boas mesmo para aquelas pessoas que não gostam de nós...

Talvez não resolva problemas financeiros, não evite uma resposta atravessada, mas, com certeza o SEU dia será melhor e a sua passagem por este mundo deixará um jardim plantado. Será bem pior deixar um deserto...




[mais um texto antigo, puxado do arquivo, pra manter viva a chama do desejo de escrever...]

Bloco de rascunhos



Meu bloco de rascunhos precisava ser preenchido hoje com algumas palavras. Já havia colocado sobre ele alguns rabiscos, um e outro desenhos riscados aleatoriamente, mas isso se mostrou irrelevante.
Queria registrar algumas anotações, emitir opiniões, embora não tivesse ideia formada a respeito do quê. São muitos os pensamentos, são várias as possibilidades.

Num passado hoje remoto iniciaria um poema que viria a publicar em seletas mimeografadas aos meus já então fiéis seis ou sete leitores, que me acompanham desde priscas eras. Ou numa crônica de ocasião que ganharia espaço no jornalzinho da escola e renderia elogios do professor de literatura.
Naquele tempo uma folha de papel não permanecia imaculada por mais de alguns minutos, o suficiente para que a caneta o visitasse e começasse a passear sobre ela, inserindo palavras – substantivos, verbos, advérbios, adjetivos, etc. – colorindo-a com a expressão de alguma coisa que alguém mais adiante classificaria – crônica, poesia, etc. – e levaria ao conhecimento de outrem.

Não sei se me tornei mais exigente ou preguiçoso. As ideias vêm, a oportunidade acontece, mas as palavras teimam em não se derramar mais sobre o papel.
E assim transcorre quase uma eternidade, o papel permanece intocado e, graças à intervenção externa, logo aparece alguma outra coisa a fazer de maior importância e fica para outra oportunidade o escrever.
Não deixei de ler – talvez o faça até mais do que antes, mas tenho usado de parcimônia ao permitir que essa inspiração me impulsione. Ou seja, onde antes eu acelerava e produzia bastante hoje sou comedido e mantenho o freio engatado.

Até recentemente usava o recurso do e-mail para fazer chegar meus textos à meia dúzia de seis ou sete leitores fiéis. Contudo, rendi-me à desculpa do trabalho – todos eles – para reduzir a produção de algo novo. Revelou-se mais fácil pegar umas palavras antigas ou de outras pessoas.
Assim, a folha de papel à minha frente continua limpa. E eu querendo me fazer acreditar que era assim por uma atitude ecologicamente correta.
Pura hipocrisia – minha e de quem acreditasse nessa justificativa.

Daí a conclusão: ou foi-se embora a capacidade criativa – de quem mantinha sozinho um jornaleco semanal que tratava de quase tudo – ou foi apenas um lampejo que, por ser o que era, apagou-se.

É carnaval, vem me lembrar o som de uma marchinha que toca ao longe nesta manhã de segunda-feira que me encontra sentado, tentando escrever...

E o meu bloco – o de rascunhos – desfila impávido e sem qualquer ideia nova, mergulhado na incapacidade criativa de seu dono...

Mais poloneses



“Acolher um peregrino é acolher o próprio Cristo” – isso me disse meu catequista e esse mesmo espírito procurei passar a quantos tive a oportunidade de encontrar por toda a pré-jornada em Belém, quando tivemos entre nós um grupo de cerca de cem poloneses que “invadiram” nossa Capital.

Era gente de modos, cultura e língua diferente dos meus, alguns agradáveis, outros nem tanto; mas a quem me preocupei em fitar com os olhos da fé, procurando enxergar neles traços do Salvador. Mesmo quando parecia difícil, esforcei-me um pouco mais, para que não transparecesse qualquer sinal de exclusão, de preferência ou algo semelhante – em resumo, o meu “homem velho”!

Não lhes entendia o idioma, é verdade, mas busquei ser-lhes agradável, inclusive evitando comentários pouco airosos – que sempre me escapam, como bem o sabem aqueles que me conhecem. Mesmo diante de algumas situações que minha razão pensava em atitude diferente procurei manter a calma e ter paciência – comigo e com quem experimentava a mesma emoção, evitando assim qualquer ponto de descomunhão.
Como já havia sido falado antes, constatei que a “linguagem do amor” funciona, permitindo que tudo saísse bem, afinal!

É certo que há muita dificuldade para sair de si mesmo, oferecer a si próprio e o que se possui ao outro, sobretudo quando o outro não pensa nem age do modo como gostaríamos. Quem disser que é fácil ou está mentindo ou faz uma experiência que não a de entrega evangélica.

Somente impulsionados pelo Espírito é possível agir como Cristo, ver Cristo no outro e servi-lo interessado apenas no bem do outro. É gratificante no final, porém exige um esforço que não é exatamente nosso, as nossas atitudes fluem até naturalmente, movidas por Deus.
O cansaço que disso resulta é humano. A disposição que nos leva a fazê-lo é divina.

Quando enfim partirem, esses poloneses certamente deixarão em nosso espírito a sensação de que poderíamos ter feito um pouquinho mais. Contudo, há uma certeza que permanece: se o fizemos com amor e por amor, foi um gesto que trará boas consequências, verdadeiros frutos de vida eterna.

O que nos fará lembrar do que disse Cristo aos setenta e dois discípulos depois de concluída a missão que lhes confiara: “Alegrai-vos antes porque vossos nomes estão escritos no céu”.

Isso me consola profundamente, vocês nem conseguem imaginar o quanto!

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Poloneses


Os cerca de cem poloneses que escolheram Belém como local da pré-jornada, dentro do espírito da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, tiveram uma acolhida com o jeito paraense de ser.
Saudados ainda no aeroporto, após o desembarque, com cantos do Caminho Neocatecumenal e melodias de boas vindas entoadas em polonês, foram hospedados por famílias locais, que se desdobraram para tornar inesquecíveis – no bom sentido, claro – esses dias que antecedem a Jornada propriamente dita.
Rezaram, dançaram e anunciaram Jesus Cristo por onde passaram – na Catedral Metropolitana, na Basílica-Santuário, na paróquia Jesus Bom Samaritano, em praças e ruas da cidade. Cantando e emocionando a quantos os viam desfilar a jovialidade de um cristianismo que se remoça ao ser vivido por uma juventude entusiasmada por pertencer à Igreja de Cristo.
Foram também ao Marajó – a diocese de Ponta de Pedras os recebeu por um dia e, à partida do navio que os levou singrando as águas barrentas da baia de Guajará, Dom Alessio concedeu-lhes uma bênção especial.

Belém não será mais a mesma. Nem esses jovens polacos, com certeza!
É  a maravilha de um Deus que derrama sua misericórdia e rejuvenesce a sua Igreja e a insere numa experiência que vai além do ver, fazendo-se verdadeiramente a água viva que sacia a sede de eternidade que todos nós temos.

Zegnamy Was, irmãos polacos! Até um dia, se o Senhor o permitir...

A escolha é nossa


Ser cristão nos dias de hoje, como era no início da Igreja, não é fácil!
São muitas as forças que agem em sentido contrário, muitas são as tentações para se deixar seduzir pelo que o mundo apresenta.
Quem conhece bem a Igreja e o seu Pastor sabe que o mundo só pode oferecer ilusões – dinheiro, poder etc. Coisas passageiras. Coisas que se acabam neste mundo mesmo. Não levamos nenhuma delas conosco.

O cristão– como toda a humanidade – busca segurança, certeza. E isso é coisa que apenas o Senhor tem e quer entregar para os seus. O preço é rejeitar as ilusões, fantasias, enfim: renegar o demônio com suas mentiras. Nadar contra a corrente!
O problema – nosso e de toda a humanidade – é que sentimos “saudade” do pecado, esquecendo das suas consequências, do mal que faz. No fundo queremos impunidade e por isso rejeitamos a justiça divina.

Porém, Deus não precisa de nós; se lhe virarmos as costas ele continuará sendo Deus e Senhor. Nós é que dele necessitamos. E muito!
A questão, portanto, sempre será esta: estamos interessados no que Deus nos oferece? Ou estamos satisfeitos com o que recebemos do mundo?