quarta-feira, 27 de julho de 2016

Palavras...

Carta-despedida entregue aos colegas do Banco do Brasil agência 1232-7, por ocasião de minha saída da instituição, ao final de julho de 1995.


Foram dezoito anos e mais alguns meses de muito trabalho, fazendo acontecer o crescimento do Banco, perdendo um pouco da saúde, ficando distante da família, deixando de ver os filhos crescerem...
Dezoito anos de luta árdua. Algumas batalhas travadas contra chefes intransigentes, outras com colegas acomodados, outras com subordinados relapsos.
Dezoito anos...

E depois, vem isto...
PDV... Para Deixar Viver.
É, viver longe de uma rotina que foi uma característica marcante na vida de um profissional dedicado, competente, até um pouco idealista por algumas vezes.

Se me permitirem, saio agora.
Disposto a, igual àquela canção, “começar de novo”, passo a passo em direção a um futuro melhor.

Dizer que não me vem o medo, seria enganar a mim mesmo. Há sempre o temor do novo, o desconhecido.
É uma aventura? Sim, é; mas uma aventura perigosa, um risco. Pois há a possibilidade de tudo dar errado, de me ver às voltas com um fracasso que me colocaria em situação pior do que a atual.

Partilho da mesma opinião de muitos colegas quando se comenta a respeito do futuro do Banco.
O trabalho para sucatear esta que foi a minha Casa durante dezoito anos e uns meses de fato é visível.
E vem se mostrando eficaz.
Não há mais ânimo, a vontade de vencer desafios está sufocada diante de tantas perspectivas nefastas.

Percebo inúmeros colegas tensos, agressivos, deprimidos...
O fato de me ter decidido a sair não me exclui da possibilidade de ficar. Mas, confesso, seria bastante penoso para mim, nascido para o Banco num tempo em que havia uma compensação pecuniária para o desgaste do estar todos os dias às voltas com clientes exigentes, inadimplentes, espertos, pernósticos e mais uma gama de adjetivos impublicáveis.

Vejo colegas hoje administradores na difícil situação de empurrar funcionários para a degola incentivada.
O corte de comissões, o corte de vagas gerado pela redução dos quadros das agências, tudo isso mortifica o servidor que, durante anos, décadas até, esteve à frente de uma série de serviços que o levavam ao estresse.
Tudo pelo nome do Banco, para que houvesse um futuro para a Casa que nos acolhia.
E, de repente, não mais que de repente, como deve ter ocorrido em Pompeia com o Vesúvio, o vulcão FHC e seus assessores dão continuidade à sanha dos adversários mortais do Banco, iniciada ainda com timidez nos tempos de Mailson da Nóbrega, e prosseguindo em passos de lesma no período “collorido”.

E lá se vão mais colegas. Alguns, para a aposentadoria precoce; outros para o mercado capitalista em recessão, ainda com garra para tentar sobreviver em meio às crises eternas que governo algum conseguiu resolver. Quando muito mascararam a realidade, para enganar os incautos, tipo o “Eremildo” do Elio Gaspari.
E são esses “salvadores da pátria” que hoje tentam mostrar à sociedade que a saída para o Banco não afundar está na demissão de pelo menos 16.500 funcionários que seriam, para o governo caros demais; a revista “VEJA” foi mais audaciosa e, captando o pensamento de nossos adversários, nos pintou como sendo os “mais improdutivos”.
Assim como espero ter sucesso na empreitada a que me arrisco a partir de 1º de agosto, desejo que os colegas que permanecerem na Casa possam ter a mesma garra, a mesma disposição para evitar o já quase inevitável sucateamento da instituição, que deve ter como fim a privatização a um custo para os abutres bem menor do que realmente vale.
Ver-nos-emos de lados diferentes do balcão, a partir de agosto.
A partir daí, desejo aos que ficarem muito sucesso, muita garra.
Tenho certeza de que precisarão.
Um abraço,
Julho de 1995.

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